domingo, 3 de abril de 2016

Flores de Nagasaki

Resiliência. Precisa lembrar que até do asfalto rompe o girassol, inquieto e desafiando a probabilidade de existência.


Precisa se lembrar daquela maldita flor. As gramas cresceram em Nagasaki. 
As árvores e seus ramos ressurgiram. A destruição não foi esquecida, mas não se morre continuamente pelos pecados do passado. 

O que pode servir de acalanto para almas tortuosas é que as flores de Nagasaki, que testemunharam a aberração do nascimento errático de crianças cegas, sobrevivem. 

Essa flor inválida, hepática, sem amor, testemunhou tudo! O mais alto grau da degradação e está ali, viva (quase morta), inexplicavelmente mostrando que nesse solo contaminado de anti-vida, das cinzas das mulheres que ali viveram, ela surge rompendo do chão onde haveria um enorme lixão tóxico; 

Ela vence a si e a impossibilidade de existir. Se essa flor, mesmo que sem cor e cheiro, sobrevive; então o que há de ser pior que não se possa sobreviver? Da tristeza que abate, da força que se perde e de todo ataque que fora sofrido, aqui estamos.


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