terça-feira, 24 de agosto de 2010

Um pouco de História! Jean de Léry e o velho Tupinambá.


Um momento interessante, onde um missionário Francês, Jean de Léry, debate questões simples sobre a ideologia que segue e no qual vive, com um "selvagem" do século XVI. Os tempos passaram, mas as idéias continuam a mesma.:

"Os nossos tupinambás muito se admiram dos franceses e outros estrangeiros se darem ao trabalho de ir buscar o seu arabutan. Uma vez um perguntou-me: por que vindes vós outros, maírs e perôs (franceses e portugueses), buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra? Respondi que tínhamos muita, mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com seus cordões de algodão e suas plumas.

Retrucou o velho imediatamente: - e porventura precisais de muito? - Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo pau-brasil com que muitos navios voltam carregados. - Ah! retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, - acrescentando depois de bem compreender o que lhe dissera: - Mas esse homem tão rico de que me falais não morre? - Sim, disse eu, morre como os outros.

Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo: - e quando morrem para quem fica o que deixam? - Para seus filhos, se os têm, respondi; na falta destes, para os irmãos ou parentes mais próximos. - Na verdade - continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum tolo - agora vejo que vós maírs sois grande loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também? Temos pais, mães e filhos a quem amamos, mas estamos certos de que depois de nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados (...)". 



Fonte: BUENO, Eduardo. Pau-Brasil. Ed Objetiva.

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