quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Reta Torta, Linha Curva

Queria ser uma forma quadrada, talvez cúbico. Seria melhor ser enquadrado do que estar na margem. Não que a paisagem que as margens dos rios não impressionem, mas desse rio que passa em nossa vida, vivemos sempre na margem errada. Errático.


Marginais. Na periferia da periferia. Um acessório periférico, facilmente expelido se necessário, talvez um apêndice desnecessário. Seria melhor ser quadrado que obtuso, com ângulos improváveis que não se encaixam nesse mundo. 

Fora das linhas não tem como se ter paralelo de como é ser uma pessoa sociável (que pelos menos sirva de algo a sociedade).
O que sobra é tangenciar a vida, de suas formas obscenas de querer ditar o que se faz, como se faz e quando se faz em qualquer idade. Viver marginalizado pela própria consciência que não se adequa a forma tradicional de praguejar sobre tudo. Falta aquela satisfação de se sentir insatisfeito, virar para o lado, respirar fundo e admitir que não há solução e "tudo bem, fazer o que? Esse é nosso mundo!". 

Se pelo menos fosse um cara circular, seria até mais condizente. Viveria em ciclos, que apesar de tudo, faria algum sentido para ele mesmo que incipiente. Ah, se fosse tão certo e exato quanto seria quadrado. Dentro de todas as expectativas e dentro de todos os planos, tudo estaria engendrado

Tudo deveria ser plano e sem obstáculo. Mas foi em linhas tortas que fora criado. Certeza é apenas de estar errado. As linhas ilógicas fazem curvas não-lineares, quebrando todo o sentido da mesma, não criando nenhum vinculo. Quebrando a realidade em que tenta se basear a vida. Toda reta torta, toda linha curva, todo errado e com a vida retorcida.
 

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Vejo o Diado Sorrindo

Em algum momento, apertaremos a mão de pessoas odiosas.
Pessoas com seus sorrisos amarelos e piadas preconceituosas que pediram uma risada sua, uma risada tão imoral quanto inclassificável.

Com um sorriso demente no rosto, o que te resta é olhar nos olhos desse caos. E ver! Correndo nessas veias que apertam sua mão, dá para sentir os seus antepassados chicoteando os negros fujões e desobedientes.

O financiamento as expedições que ao longo de continente americano exterminou todas as civilizações nativas. Da para sentir o gosto pelas ações no mercado negreiro e sua hipócrita afirmação de liberdade.
O gosto pelo dinheiro exala no corpo algo que daria inveja ao pior dos bárbaros e piratas. Sua linhagem deve ter vendido combustível a tropas da Alemanha nazista, mesmo que seu país lutasse contra o eixo.

É a mesma cara de prazer que vê lucro no extermínio do estado de Israel na faixa de Gaza, que vende armas para diferentes etnias da África subsaariana, explorando o ódio de um contra o outro para ter diamantes e matéria-prima barata para exportação.

Olhando nos seus olhos vejo o prazer por se sentir superior e saber que limpou do mundo gente inferior. E mesmo que lavasse minha mão com álcool e incendiasse em seguida, não teria afastado todo aquele mal.

Pois como um câncer, em velocidade assombrosa, teria corrompido todo o meu braço. Como se personificasse o ideal humano do sucesso e ao que pior se têm de um verdadeiro ser humano, ao olhar em seus olhos, vejo o diabo sorrindo. 

domingo, 28 de dezembro de 2014

Meu Amigo William

Texto de um escritor que aprendi a admirar muito, por traços em seu perfil no qual me identifico relatado em suas crônicas e poemas. Abaixo, um relato de como eu seria se tivesse nascido no "Planeta Bizarro", onde tudo é ao contrário da nossa realidade.



"MEU AMIGO WILLIAM

Meu amigo William é um homem de sorte:
lhe falta a imaginação para sofrer

ele manteve seu primeiro emprego
sua primeira esposa

consegue dirigir um carro por 50 000 milhas
sem precisar fazer reparos nos freios

ele dança como um cisne
e tem o par de olhos vazios mais bonitos
deste lado de El Paso

seu jardim é um paraíso
os saltos de seus sapatos estão sempre nivelados
e seu aperto de mão é firme

as pessoas o adoram

quando meu amigo William morrer
dificilmente será de loucura ou câncer

ele caminhará pelo demônio deixando-o para trás
em direção ao céu

você o verá na festa hoje à noite
sorrindo de orelha a orelha
com o seu martini

deliciosamente e agradavelmente
enquanto algum cara
fode a esposa dele
no banheiro."

Desde que o Mundo é Mundo

Você testemunha sobre sua vida e ninguém se importa,
Você é um livro aberto para o mundo e ninguém lê,
Desde que o mundo é mundo, só interessa se você for "alguém",
Hoje é só mais um dia e tu és apenas mais um,

Um número, uma pessoa qualquer, um indivíduo sem importância,

Você diz tudo que sente e ninguém te escuta,
Você escreve tudo que pensa e ninguém se importa,
Desde que o mundo é mundo é assim, cada um olha para o seu rabo,
Cada macaco gordo em seu próprio galho,


Continuo dizendo o que penso para ninguém,
Sou o livro que ninguém se importa em ler, mas mantenho as páginas abertas,
Sou o desconhecido mais que conhecido, para isso, bastar ter vontade,


Enquanto eu for o ser oculto nessa dimensão, serei um estranho que não ri para as piadas forçadas,
Serei o estranho que não tem riso fácil e que não se admira com o mundo ordinário,


E apesar de dizer tudo que pensa em palavras jogadas em algum oceano, captadas por qualquer rede, ninguém há de saber o que penso,
Desde que o mundo é mundo é assim, a ignorância é reconfortante e o óbvio agradabilíssimo.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Do que Temos que Engolir

Certas coisas ficam engasgadas em nossas gargantas. “Pedindo” para sair. Quase gritando por liberdade. A tantas afrontas que devemos engolir e temos que abaixar a cabeça; seguir em frente!
Ah, se cada murro em pessoas pretensiosas mudasse o mundo. Mas não o muda. Talvez até piore o “nosso mundo” (seria mais um universo interior). Causa e consequência...

Por isso engolimos a seco a cretinices e a bobagens que despejam sobre nós. Defecam pela boca com maestria e esperam agradecimento pela quantidade de adubo que despejam sobre nós.

Engolir essa porra, como uma puta de 20 reais do cais engole. Engolir todas as afrontas. Fazer-se de cordial e ainda agradecer pelos insultos ao mínimo de dignidade que nos resta. Eles estão todos certos. Sempre estarão.

Enquanto puderem escolher se você vai ou não servi-los pelo mínimo que podem pagar, eles estarão certos. Enquanto puderem selecionar como você deve se portar, eles estão certos. Enquanto puderem dizer como você deve se vestir, eles estarão certos. Por milímetros na estratificação social, estamos abaixo. A ralé. O proletariado.

Aquele que se multiplica fornecendo sua prole para o mecanismo funcional que existe nunca cessar, pois a sociedade vive disso: Da diferenciação e da submissão.
Talvez seja algo ligado ao mais intimo do ego. Uma reflexão inversa que os impede de perceber sua mediocridade e conformismo com o que são e da limitação na vida como indivíduos realizados. Por isso, por milímetros ou centímetros nessa camada homogênea em que nós todos estamos (na merda), devemos ouvir e baixar as orelhas como burros de carga, pelo medo de sermos desligados da nossa função básica de sobrevivência.

Sobreviver, já que o termo “viver” é um pouco vago e no momento utópico demais para a realidade que se encontra maior parte da civilização humana.
Por isso engolimos essas merdas. E de tanto tragar a fumaça cinza que sai das chaminés, perdemos um pouco de nossa humanidade.

Comemos essa lavagem, pois não sabemos que existe algo melhor e como obtê-lo. Vivemos nessas palafitas de madeirite e compensado de madeira, que apodrece com a água da chuva e a subida da maré com esgoto, pois somos fracos demais para exigir algo mais digno.

Por isso engolimos. Vamos extrapolar bebendo para esquecer. Tomar um remédio para dormir e tentar esquecer as angústias. Socar a parede como se fosse à personificação de todo filho da puta que te falou algo indesejado... Como se fosse resolver o problema. E desejar que nada disso seja em vão e que todo auto-sacrifício seja por alguma razão misteriosa e desconhecida.

Só desejar. De forma irreal, quase irracional, para engolir e não dormir engasgado com esse vômito preso na garganta. Se bastasse gritar. Se pudesse voltar no tempo e dizer tudo que esta preso como um nó no peito, mas nem o Superhomem, dando voltas na velocidade da luz na direção contrária a rotação da terra conseguiria. 


Já é passado. Já Foi! É só mais um fragmento de memória para te deixar puto e te moldar. Quebrar seu espírito, sua mente, sua auto-estima. E te fazer engolir... Tudo!


terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Sobre o Colchão

Sobre o colchão, a memória importunamente vem ressuscitar fantasmas. Teve tempos que a mente se iludiu com aspectos de felicidade, pensou enfim que era feliz. E os fantasmas agora riem.
O colchão agiu como um gatilho, recordando coisas que deveriam ser esquecidas. Remoendo fatos do passado. O cheiro do cabelo, o colchão velho que chegava dar coceira, a conversa sobre os lençóis, os planos que ficaram no esquecimento e o filho que nunca veio.

“..Ver a linha do horizonte me distrai
Dos nossos planos é que tenho mais saudade
Quando olhávamos juntos
Na mesma direção..”


A memória é cruel em querer lembrar um passado que deveria ser esquecido. Dos erros cometidos; da insegurança; da hesitação. Veio como um redemoinho destruindo tudo que achava estar consolidado. A ferida que parecia cicatrizada, parecia pulsar novamente em dor. Como se reaberta por debaixo do retalho de pele recomposta. O passado vem trazer fantasmas que amaldiçoam o nosso sono, e nos faz perguntar “como vivemos desde então?”

Aquilo que parecia ser um porto seguro afundou-se. Afundou tudo que estava em volta. Encobriu a ilha com um mar de amargura. E o oceano nunca mais teve vida como antes.
Por causa de apenas uma memória, castelos podem ruir e o futuro se desconstruir. Tudo pode mudar. Menos a tristeza que perdura desde a adolescência (e chegou a cogitar que sumiria quando mais velho), ledo engano. Uma simples recordação, um simples colchão no chão, pode nos mostrar toda a fragilidade e insegurança que tentamos esconder.

Se pudéssemos apagar certas memórias, por mais felizes que sejam, seria melhor. Não ressuscitar velhos rancores. Esquecer eternamente o que não findou em fracasso. Todos os nossos erros e covardia. Enfim, como se pudéssemos apagar a memória, nenhum colchão jogado ao chão causaria tanta comoção. 

“... Esquecendo o mundo e sendo por ele esquecido.
Brilho eterno de uma mente sem lembranças...”    

sábado, 20 de dezembro de 2014

Today is a Killer

Tradução do poema de Dave Nelson, membro do The Last Poets, que foi interpretado por Nina Simone:

"Muitas vezes eu sento e olho para o mar
E sonho, sonhos e esperança esperanças e desejo desejos
E ultimamente é como ouvir a música do vento
Como se dançasse lindamente para mim
Mas esses momentos nunca parecem durar muito tempo
Porque depois as esperanças, os sonhos e os desejos
Após o canto de um vento dançante
Depois que você e eu, e um momento roubado de felicidade
Depois de um vislumbre do universo natural atemporal
Movendo-se em um ritmo com esforço, surpreendente esforço, sim
Movendo-se com um esforço surpreendente, beleza sem esforço
Vem, vem a realidade de hoje
Sorrindo seu onisciente sorriso diabólico
Sabendo tudo que eu digo
Tudo o que eu sinto, tudo o que penso
Cada gesto que eu faço,
hoje, hoje
Pressionando o rosto feio contra o meu
Olhando para mim com os olhos sem vida,
Esfarelando todas as lembranças de sonhos de ontem
Desintegrando as esperanças em ruínas
E
destruindo desejos, destruindo sonhos
Não posso nem chegar perto de ninguém, não mais
Não importa o quanto você tente, você não pode chegar perto de ninguém, não mais
Porque hoje é um assassino"





Daysleeper

Tem dias que não quero dormir. E quando durmo não consigo levantar. Quero dormir eternamente as poucas horas do dia. Tem dias que só quero dormir para o dia acabar logo. É complicado ter tamanho sono (ou falta dele).

Tem noites que é melhor nem ir pra cama, pois o dia é pouco e tem que se fazer tanto. Tem noites que é melhor dormir, porque não tem nada mais que agrade para ser aproveitado. É complicado ser um sonâmbulo ansioso ambulante. Melhor seria hibernar.

Acho que deveríamos separar uns dias certos no ano, só para chorar. Tirar toda mágoa aprisionada em algum lugar do imaginário que chamamos simbolicamente de "coração". 

 Deveríamos chorar para desatar todos os nós da garganta, todas as frustrações e os sapos e anfíbios diversos que somos obrigados a engolir. "Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir. Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir".

Para dormir em paz (que paz?) e com a consciência tranqüila (o que é consciência?), vamos desaguar a chorar e molhar todo o travesseiro, para que puder achar no soluço a verdadeira razão para não dormir. Para agüentar todo o dia santo, o alvorecer que me mata pouco a pouco, enquanto durmo em pé no ônibus.
Enquanto durmo, não há coelho branco para perseguir. Não há chapeleiro louco servindo chá. Gatos sorrindo. Não há nada de fantástico, mas ainda sim, me prende de forma incrível. Daysleeper.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Tudo muda, tudo mudará

Essa vontade louca de querer mudar o mundo.
Mas antes vale aquela velha frase proferida por alguns pensadores:
"Para mudar o mundo, comece mudando a si mesmo" (ou algo do tipo). Mudar a mim mesmo?

Mudar é constante. Ta aí, uma afirmação com antítese, como quase tudo na vida, cheio de contradições. Paradoxos e hipocrisias são o que temos de monte.
Mudar a si. Se mudar. Mudar para onde? Mãos atadas para enfrentar as injustiças tradicionais.
As tradicionais que há muito perpetuam erros históricos e se tornam sacrilégios, mudarem algo a tanto imutável. Mudar.

Mudar para não suportar todos os dogmas que desafiam a lógica e maus-tratos que são perpetuados aqueles que não tem força nem mesmo para levantar a voz.
Mudar para criar voz, ser a força que falta. Ser o elo que precisa nessa corrente.

Temos que engolir certas mudanças que não queremos, e o que queremos mudar parecem cláusulas pétreas no livro do destino. Talvez devamos concordar quando dizem “certos males vem para bem”, quando achamos certas mudanças ruins. Realmente, a vida é uma constante mudança em que tentamos evitar em boa parte que aconteça. Acomodar-nos com o cotidiano. Sentir segurança com a repetição contínua.

Fadigado. Stressado. Desanimado. O que pode ser “sintomas” de uma rotina massacrante ou desestimulante, ainda sim, encontra desafios para mudar. Mudanças assustam. Mudanças como o mar revolto, sem saber como será. “Quando navegar é preciso e viver não é preciso”, estamos sempre à procura de um porto seguro, uma forma de ter certeza onde estamos.

Mas a mudança vem e tira tudo do lugar e o desconhecido assusta. Causa-nos pânico sem saber por que estamos sofrendo por isso. E a Ansiedade e frustração vêm a cavalo.
Quero mudar o mundo, mas consigo mudar a mim mesmo primeiro?
Os versos da canção, "Tudo passa, tudo passara. Nada fica, nada ficará.", poderiam ser:
“Tudo muda, tudo mudará. Nada fica, nada ficará.", sem perder o tom.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Todos os Tons de Cinza

Entre o bem e o mal, vivemos separando as pessoas entre boas e más. Um maniqueísmo irreal na existência absurda. Não há diabo que não tenha algo de bom, e não tem santo que não tenha esqueleto no armário. Nem tudo pode ser completamente ruim.

Não há preto no branco. Só cinza. Em vários tons. Cinza-escuro, cinza-claro, cinza sei lá o que... Existem dezenas de tons de cinza, só para esclarecer (ou melhor, acinzentar) que tudo é um pouco ruim e bom. Todos têm seu lado ruim, mas alguns são bem piores do que o normal.


A sociedade é uma farsa, quando admite que o ser humano viva em nível subumano. Viva como indigente. E ainda há quem ateia fogo nessas pessoas. E ao se pensar sobre isso, pensasse:
”Os políticos são os verdadeiros representantes do povo”.

Povo alienado que vive em ignorância. Aos poucos que possuem enxergar uma claridade, permite-se olhar para um abismo de fascismo e ultra-egoísmo.
Povo que deixa gente morar na rua, não é uma sociedade... É só um aglomerado de animais.

Animais são mais dignos até. O ser humano só é humano quando sofre, sangra e chora.
Cada um só quer saber de si próprio. Matar e roubar só pra ter mais bens de consumo.

Ainda sim, há de ter esperança, que todo esse mal renda algo de bom. Esperamos que até as situações ruins pudessem trazer coisas boas.

Que o aprendizado venha com a experiência. A experiência em perder. Experiência em cair e ter que levantar cortado, arrebentado e fodido. Como se bastasse saber na vida o que é somente bom e ruim. Quem são as pessoas boas e ruins. Mas não há como, saber!

Como não há preto e branco, como o certo e errado. Está tudo um pouco errado, e quase nada certo. Está tudo cinza. Diversos tons de cinza.Todo os tons de cinza.

 “Veja o sol dessa manhã tão cinza. A tempestade que chega é da cor dos seus olhos..”

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Exemplo de Hipocrisia.



O que fazer com tanto sentimento reprimido? Se fosse uma bolha, explodiria o quarteirão. Vejo-me como um exemplo. Um péssimo exemplo.

Sou refém da preguiça combinado com hipocrisia. Serei o ultra-extremista radical de meus ideais (que ideais?). Serei um terrorista para honrar a vontade superior (de quem?). Vou lutar até a morte para provar minha ideologia (ou até mudar de ideia).

O cansaço precede o trabalho. A vontade se vai antes da ação. O pensamento morre com todo o sentimento engasgado. Nessa tormenta de idéias, não sobra nenhuma boa ou que se aproveite para bem comum (nem mesmo para bem próprio).

Que belo exemplo de hipocrisia, com todos os pensamentos enclausurados no corpo. Se pudesse explodir já havia explodido. Pouco se mantém dessas noções de mundo porque tudo parece ser uma merda. E a esperança de que vai tudo vai melhorar morreu! Sufocada.

O que resta nem é mais chorar. É fingir. Engolir todos os prozacs e congêneres da indústria farmacêutica para cumprir meu papel de consumidor feliz da indústria de bens. Trabalhar como bom membro do proletariado e praguejar sempre o insolúvel e impossível da cultura popular e política social. Constituir família, sem se perguntar em qualquer momento: "Por quê?"

Eu me Findo.

O sonho de morrer logo ficou no passado. Mas não estava esquecido. Tomar as pílulas que dão para domar o mal interior. Antes de dormir, era difícil imaginar o dia seguinte. Para acordar era sempre um martírio. Todo santo dia, um martírio. (e como seria diferente?) O peso do mundo na consciência, como se estivesse devendo algo a alguém, além de um senso de inutilidade social inevitável. Como afugentar essa angústia que não cansava em me cansar?


 Não me canso de fazer perguntas retóricas que sem resposta acabam virando respostas óbvias. O quanto de ricina é preciso para matar a consciência? Se eu não pudesse matá-la, eu deveria sequestrá-la e colocá-la em um calabouço ou qualquer buraco que ninguém pudesse encontrá-la. A consciência estaria perdida e eu livre do seu peso sobre meu crânio. 

Para poder me livrar dessa pressão interna craniana, eu escrevo. A cada dia que escrevo, escrevo para mim. Escrevo para alguém que talvez nem exista. Escrevo para que ninguém leia, mas escrevo. Escrevo para transmitir as aflições do maniqueísmo binário que são acobertadas pela hipocrisia que ninguém quer admitir. Os erros que querem esconder. Essa falsa ilusão e do eterno prazer. (Doce ilusão que vicia)

Essas ilusões da mente que intoxica, causa a dependência pelo irreal e o prazer. Prazer para fugirmos da realidade absurda e dos padrões alienantes que engolimos diariamente como tabletes enormes e indigestos. Precisamos mentir a nós mesmos para escapar do óbvio (e talvez o óbvio nos escape por pura ignorância). 

Precisamos do hedonismo e das soluções imediatas, da amputação das fobias e do medo de sentir medo. O meu pior defeito é não me enganar tão fácil como outrora. Esquecer as coisas boas em detrimento as ruins. O defeito é não suportar mais o doce que me dá indícios de diabetes. 

Não, não posso mais assistir a tudo e não me pronunciar. Mesmo que não me leiam, mesmo que minha ortografia ruim possa ferir os olhos treinados daquele que possa vir a me ler... Persisto nesse derrame de idéias.

Vomito minhas palavras sobre o branco do nada. E no último parágrafo, só por esse momento, eu me findo. Eu me findo. Eu me acabo. Tropeço-me nas palavras, mas acabo por dizer tudo que preciso por um dia. Como se morresse em paz. Jaz. Aqui. Me Findo.

domingo, 7 de dezembro de 2014

Exagerado Ser Humano, Deveras Exagerado



O termo "ser humano" e suas características são exagerados.
São raras as pessoas existentes que correspondem à definição que atribuíram a essa palavra.

Outra palavra usada erroneamente quando se refere a pessoa é "animal racional". Atribuir o termo "racional" a toda espécie humana é um erro grotesco. Uma maioria avassaladora não pode ser acusada dessa forma pelas atividades de uma minoria. Matamos as definições com nossas atitudes.


Queria acreditar na paz, mas os sons de tiros interrompem a meditação.
Queria viver e me render ao amor, mas seria facilmente destruído no mundo sem remorso.
Temos humanidade em termos genéricos e inteligência em forma cristalizada. O que falta é a prática em ser humano e lapidar esse cristal que encobrimos a inteligência.

Vi macacos mais bem relacionados que grupos dessa sociedade (falida sociedade). Orangotangos mais humanos que certos indivíduos. Mais amor em olhos de cachorros do que em reunião de família que se detesta.
A salvação que tanto se espera, é para nos livrar da tarefa mais difícil de humanização da raça que me recuso a chamar de humana. O epitáfio dessa sociedade é escrito com sangue e pus seco das feridas abertas pela marginalidade. 

As palavras de dor saem de gargantas cortadas que em um grito inumano, revelam sua dor descomunal. Não há voz da indiferença. Não há forma na maldade. É o que somos e o que nos formamos. O ser racional e evoluído que toma para si a consciência da existência e a imagem da divindade. A costela do Adão. O Barro. O fogo de Hefesto. A luz de Hórus. Foi tudo uma sandice, um erro épico. Encontramos uma maneira de renegar a todos e agradecê-los com a destruição e caos.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Saudades de Mim


Sinto falta de minhas risadas e da rara felicidade 
Sinto falta de minhas gargalhadas, de chegar a soluçar e ficar vermelho, mesmo sendo raridade.
Sinto falta de mim nos momentos mais agradáveis. 

Nunca pensei que sentiria saudades de quem eu fui naqueles dias infindáveis. 
Por onde andei? Quem eu fui? Não paro mais em mim. Fui me encontrar e não retornei. 
Quero saber dos meus sonhos e não dos pesadelos no qual vivo e no que me tornei. 

Queria ter uma alma isenta de sentimento. 
Frio como um iceberg, sem ressentimento. 
Mas o pouco sentimento que me restou, 
Vem me engolindo pouco a pouco, devora o que ficou. 

Digerindo-me. De dentro para fora. 
Sobrou o remorso vivo. 
Parece que o sofrimento é vivo e soa mais persuasivo. 

Ainda que alguma voz me diga que tudo vai melhorar .
O que basta é fingir que ira mudar e por fim acreditar,
Enquanto isso basta saudade, 
De pensar que no impossível absurdo,
 havia um pouco de felicidade.

domingo, 30 de novembro de 2014

Imortal na Minha Boçalidade


Há alguns anos sai da vagina de minha mãe. Seria fantástico se não fosse trágico. Fui atingido por raios cintilantes sobre meus pobres olhos, puxado com força e cortado meu cordão umbilical. Esse foi apenas o começo da violência. 

Sou incrivelmente chato e não morro nunca. Imortal na minha boçalidade. Tem dias que é bom chorar para ver se explode alguma coisa fora. Por onde explodem as bombas atômicas além de aqui, dentro de nós?
As palavras caem como bombas, o estrago é incalculável. Para que desejar amor eterno se não há vida que dure tanto amor? No fim nunca chegamos ao fim. Dizemos adeus tantas vezes.

Vivo por ai vazio (porque andaria cheio, além de banhas?) e existe um fogo que queima em mim de um combustível incolor e inodoro. Vivo nesse hospício por falta de liberação. Preso nessa carcaça de pele, ossos (e banha) sou eu sem saber o que realmente ser. Tenho o rosto no espelho, um nome e CPF. Mas tão vazio.

Dentro de mim, ignorando o corpo como adiabático, o sangue que não passa do 39º fervilha e sem ebulir como em uma panela de pressão inexistente, cria revoluções imaginárias na mente.
Faz-me pensar como somos pilhados e por vezes batidos em um liquidificador como ração a outras camadas mais ávidas em destruir nossos reflexos. O monstro que somos e nos devoramos.

Construídos para nos manter em divisões estamentais, manter a ordem que é uma desordem dos privilegiados. Para quem se rebela existe a acomodação, o sofrimento ou a alienação obrigatória. Vivo e me devoro  na ação do ato auto-antropofágico. Dia após dia, sigo na contagem da vida, com a uma bússola quebrada em uma mão e uma ampulheta com areia e cimento em outra... (onde se caem gotas de água dentro).

Na Sala uma Chafariz de Chocolate




Na sala uma chafariz de chocolate jorrando sem parar. Uma limusine com aro de 20 polegadas forradas em ouro. Uma linda mansão com 3 suítes para cada parente. Mas, infelizmente o dinheiro não faz andar sobre o ar, andarilho dos centros urbanos, não precisaria esbarrar nesse mutirão de pobres malditos e nem olhar para os ônibus lotados cheios de fadigados antes das 08h00 da manhã.

Mesmo afortunado, não se faz intangível a toda sorte. Dos males que afligem o ser humano, do latrocínio e da inveja violenta de ter algo que não se necessita, realmente. As balas não param em pleno ar por causa do dinheiro; e os sequestrados não deixarão de escolher um cativeiro por causa do status quo. 

Tendo tanta indiferença correndo dentro do DNA, é compreensível se sentir um brâmane tupiniquim, já que antes as mucamas e os servos trazem seu mingau na cama. O mundo acaba todos os dias, para todos aqueles que não sabem o que é o mundo, e como ele se enfraquece diariamente. 

O corpo está moribundo e sedento. A seca é o que mais se agrava. Os lordes não entendem do enfraquecimento dos vassalos é físico e mental. Os plebeus estão sobre controle, desde que não seja apresentada a realidade massiva de que são controlados. 

Um pouco de migalhas para apaziguar a mente conturbada. Um programa legal para espairecer a mente já vazia. E tudo está conforme tem que ser. A pirâmide estamental sobre a base esmagada de sempre. Não descobriram ainda que o ouro não faz o ser invulnerável ou intangível a todos os males. 

Que se vive interdependente nas aldeias globais. Prega-se o amor ao próximo dentro das catedrais e cultos, mas esquecem no minuto que se põe o pé para fora. 
Esquecem que nascemos iguais e apodrecemos iguais, ou com mínima diferença de onde quer que se jogue as cinzas do seu corpo carbonizado.