terça-feira, 24 de novembro de 2015

A Poeira que nos Consola

Não existe racismo. Todos somos tratados de forma igualitária e temos as mesmas chances desde o útero até a morte. Somos iguais perante a lei e ninguém tem privilégios com seus status e relação econômica.
Temos sempre opiniões parecidas. Somos quase iguais. Oramos para o mesmo Deus, partilhamos da mesma fé... Não...

Mas sabe, a ignorância nos salva de destinos malditos. No fim não teremos homens voando com capas vermelhas com balas ricocheteando na pele. Não haverá um semideus salvador onisciente que irá perdoar nossos pecados mais sórdidos.

É a poeira. O que consola é a poeira. 
Essa poeira feita de partículas de silício, ferro, partículas de carbono, calcário e de fuligem. Poeira que se mistura no ar e nos ventos. Poeira das estrelas e da terra. 

Nosso conhecimento é um mundo em meio à imensidão do universo, e sua infinita poeira. Essa poeira que nos cerca e que criamos. A poeira da pele morta suspensa no ar, sobre os móveis e sobre nossos fétidos corpos em continua decomposição. É a poeira que nos consola. Essa poeira que é parte da origem de tudo. Poeira que nos tornamos. De onde viemos e para onde vamos. Simples poeira.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Quando a Humanidade Acomete


Humanidade me acometeu como uma enxurrada que desce morro abaixo. Não se consegue ser tão canalha quanto antes. Essa culpa de comer quando outros não pode parecer ser viral.

A humanidade me acertou quando eu menos queria.

Porque vem criar consciência? É mais fácil ignorar e seguir adiante. Ser apenas mais um com críticas vazias que giram sobre o próprio umbigo. Mas como um raio, vem esse conceito estranho de tentar respeitar outras formas de vida. Outras culturas, outras ideias. 

A culpa é o prato cheio que transborda. A vítima é sempre desconhecida e ignorada. Culpada por ser vitimas, culpada por existir. E há tanto para se conhecer sobre o mundo e as coisas que persistem em se esconder a vista nua.

Faz-nos eternos ignorantes em meio a tanta gente esperta e cheia de razão.

O principal erro é tentar ser humano. E errar, pois errar é humano. E o erro é constante e variável. Paradoxal e tão natural. Duplipensar inevitável. Nessa de desistir e tentar, acontece várias vezes ao dia. Vários dias ao ano. Tão incrível e tão cruel ser humano.

Porque ser assim, humano? Como por engano, existe. Sem fim conhecido, sem desculpas para tal. Com esse vírus de consciência incomodando o cérebro. Culpando como algoz de vítimas invisíveis a olho nu.

Enquanto se acomete desse incômodo de humanidade, se vê carregando cruzes imaginárias ou pesos colossais de algum Titã esquecido. 

O choro não basta. Desistir não adianta. É a eterna vontade de desistir seguindo e que perdura, andando em modo automático, desejando arrancar as orelhas para não ouvir tantas barbaridades, chegando os olhos para não ver tantas imundices e mau-caratismo. Nem o tato consegue sobreviver nesse vazio existencial onde os sentidos se perdem em fazer sentido. Onde se perde constantemente o conceito do que é ser humano.

Tristeza Capital



A tristeza é meu capital. 
Mas não há moeda de troca, não há câmbio para suas transações. 
A desculpa são os negócios. 
O prazer é o que impulsiona os motores da vida. 
Hedonismo moderno para as necessidades instantâneas. 
Sobrevive fustigando as entranhas desse ser.

Não há pecado maior. 
Não há capital suficiente que pague toda angústia e as vontades egoístas de um mundo singular vivendo no falso plural.
Todos os caminhos levam a estranheza entre o ser e ter. 
Não cabe nesse mundo ou em qualquer outro o conceito de dignidade além do que se paga.

A tristeza é meu capital. 
Viva e verá todos os assaltos a vida.
Viva e verá que nada custa tão caro quanto perder a pouca dignidade que se possui. 
Não existe justiça na terra dos homens.
Não existe justiça na vida. 

O que se pleiteia é uma imagem etérea do que seria algo parecido com justiça.  
Uma justiça magra, desnutrida e espancada por usurpadores de seu nome.
A tristeza é meu capital, de onde sai minha maior pobreza de espírito e o que me custa tão caro nessa vida.