sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Inferno de Sísifo


É tudo a mesma coisa. É tudo sempre igual, mesmo estando diferente.
É preciso de uma religião para se guiar. Alegria para viver. E para viver é preciso ser feliz. Trabalhar para viver. E viver para ser feliz. Feliz para viver!

Trabalhar para ser feliz. Ter uma razão de ser, ou pelo menos uma muleta a se escorar. É preciso acreditar, em contos de fadas ou ter fé em fatos impossíveis.
Qualquer coisa que faça continuar pela vida ilógica que se segue. Uma fé inabalável. Uma ideia incontestável. Qualquer coisa que pareça fazer sentido e nos dê razão no que sempre foi uma loucura.

Dias mais ou dias menos, amigos se vão, parentes se vão...lágrima escorrem com o pedido de que "estejam bem, onde estiverem", pois a sensação de que não existe nada além de nossa existência perturba a nossa existência. Pensar no ser, perturba. Imaginar o porquê, perturba.
É o inferno de Sísifo repetido eternamente, com seus esforços se tornando inútil ao fim do trabalho.

Perturbações que mostram nossas fraquezas e imperfeições. Não queremos ser imperfeitos. Queremos ser felizes e viver para sempre. Queremos viver felizes, para sempre. Queremos saber que depois da carne, teremos a bênção sagrada, e o mais importante, que tudo não foi em vão.
Queremos tudo e renegamos o nada. Queremos tudo agora e para depois também.

Como somos limitados.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Centro do Universo.


Ele queria se sentir vivo, com aquela intensidade que bate no peito, que chega a elevar a adrenalina. Ele gostaria de de sentir aquela alegria por estar respirando e todo o sentimento e beleza que ele vislumbra. Mas ele vê que o mundo é mais do que pensara. O mundo não é tão coletivo e belo. Tem tanto louco se dizendo são. Loucura coletiva tão particular em cada um.

Escrever para não enlouquecer, deixar fluir pensamentos que se digladiam e para exorcizar todo o maniqueísmo que estamos sendo bombardeados dia após dia, onde realmente não existem mocinhos e o mal é deveras humano.

Ele queria se limitar nas fronteiras do seus pensamentos para não se indagar no sobre o porque dos limites. Ele desejaria não ter que remoer sempre no mesmo ciclo intermitente, onde as pequenas vitórias parecem vazias. Tudo repetido da mesma forma, com novas roupas, novas desculpas e os mesmos erro. Intermitente, indefinidamente, só assim sentirá se esvair o pensamento sobre vida e morte, o pensamento existencialista que tanto o persegue.

Copérnico, Galileu, Kepler, Newton...evoluíram de um pensamento e sofreram por isso. O mundo não gira em torno do Sol, não é apenas um planeta em órbita.
Infelizmente eles estavam errados. O mundo gira em torno do Homem, e o Homem também é o centro do universo. Centrado em si mesmo, não existe esquerda, direita. É sempre o centro. O centro de si.

Tudo mais do mesmo.




Tudo igual, uniformizados, com ar de inconformidade, revoltosos...mas são todos iguais. Iguais até na desigualdades. Seguem a tendência idiota de ser o que dizem ser bom. Seguem a tendência de ser idiota por si só.

Olhando de longe, são marcados da mesma forma, são notados pela semelhança. Esperam ser indistinguíveis se parecendo com tantos outros.

A vontade de ser aceito em um grupo pode ser uma possibilidade. A afirmação constante de ser um membro sociável mesmo que de parte da sociedade. Contraditório é o sentimento em querer ser tão diferente e ser igual ao que contesta.

Mas nada muda em serem iguais em todas as formas de tentarem ser diferentes. Juventude como sempre, com seus traços revoltosos, muda com o tempo, mas continuam sendo iguais pelos séculos e entre si em um grande atacadão de si mesmo.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Servitude Éternelle


Outrora, os senhores de engenho se deliciavam de um bom café, servido pelas mãos de escravos.
Hoje não temos mais as "Casas Grandes" centralizadas...então, por onde anda o senhor de engenho?
Quem é o senhor do escravo pós-moderno? A quem servimos?

A primeira mão podemos dizer que somos escravos de nossa vontade de querer: Querer sempre mais. Independente do que seja e do que suportamos para tal. Querer apenas por querer. Podemos dizer que somos escravos da vontade, nossas vontades e desejos mesquinhos. Servimos a nossa ambição e eterna volúpia. Escravos do desejo. Desejamos tanto que criamos correntes entre nossas pernas, com bolas de chumbo mais pesadas que a lua.

Ainda sim, parece que há sempre algo maior por detrás, como se não fosse possível prestar atenção no “homem por detrás da cortina”, ilusionando como um fantasioso Mágico de Oz. 
Há sempre alguém que impulsiona as engrenagens do sistema. Situações que parecem impossíveis, rostos invisíveis, frases com sujeito oculto ou indeterminado. Somos escravos de alguns e da pior maneira, nos tornamos escravos de nós mesmos. 

Escravos da dependência, em uma servidão contínua que não dá sinal de paz ou trégua. Apenas momentos de alívio para suportar todo o peso indefinidamente. A Burocracia funciona de forma inócua, onde um sistema próprio de Sísifo, seria menos odioso, pois saberíamos que estamos sendo punidos (e porque estamos sendo).
Temos nosso valor/hora de trabalho mensurado pelo mercado de trabalho; mas esse valor/hora no ócio é imensurável.

Valor atribuído, repartido e equacionado. O fator social segue quase como uma esmola para se poder sobreviver. É necessário políticas que facilitem o emprego, que por fim acaba como sendo uma benção para milhões de “desafortunados”. És uma benção ser martirizado até o fim da vida.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Pílula para dormir, pílula para acordar.

 

Pílula para dormir, pílula para acordar.
A hora de dormir já passou. A hora de acordar sempre é adiada.
É um suplício eterno manter esse ciclo.
Cápsulas de alegria, tragadas para elevar a dependência na dopamina.

Montanha-russa de emoções, mais necessidades a cada curva.
Uma pílula para dormir, outra pílula para acordar.
A hora de dormir nunca chega, e a hora de acordar é um sacrifício.
Cápsula de energia, tragadas para dopar a vida.

Vive a intensidade do hoje com enorme amor ao tédio.
Uma tragada de fumaça para ir direto aos brônquios.
Uma dose única do melhor álcool para elevar o espírito.
Qualquer coisa que faça sair da realidade.

Roleta-russa de emoções, com um número de sorte no tambor.
Nem o CO do ar, consegue fazer parar essa respiração pertinente.
A pílula que se tem para dormir, não funciona mais; tampouco a pílula para acordar.
Veneno antimonotonia não sai fácil da semente. É preciso espremer tudo que não é necessário.

Pílula para dormir, pílula para acordar.
Nunca quer dormir; não se contenta em acordar.
Cápsulas de alegria, tragadas para elevar a dependência na dopamina.
Um dia quiçá, o sonho seja tão bom quanto será eterno?

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Seu Nada e o complexo da vida e morte.



Seu nada, a algum tempo atrás se percebeu morto. Seu corpo era vivo, mas aquele símbolo dos românticos que outrora se atribuía os sentimentos, agora se restringia apenas a bombear sangue venoso e arterial. Sentia-se morto com o corpo ambulante, aproveitando toda a ficção em torno dos zumbis e sua fome por cérebro, na verdade, não buscava um cérebro, e sim, uma alma com pouco mais de paixão.

Até pouco tempo atrás, Seu Nada se percebeu vivo! Quem diria, um ser consciente, vivente e respirante. Percebeu não ser a pessoa mais inteligente da terra, tampouco a mais burra, talvez um pouco estranha, mas ainda percebeu que era consciente de sua existência, e de tudo que acontecia ao seu redor como um notável desconhecido testemunha da história, sem ter como interferir em acontecimentos além de suas capacidades.

Seu Nada apenas percebe seus passos, seus erros, sua vida e se indaga de como veio a existir nesse caos. Questiona como tantos vivem nesse caos de forma um tanto harmônica, achando belo aquilo que a sua cultura impõe como belo, se alimentado daquilo que sua cultura lhe diz ser bom e saudável para consumir, vivendo da mesma forma vazia e cheia de coisas para se fazer como sua cultura diz como tem que ser.

Reza para todos os deuses que sua cultura diz que nos criaram, e perto do fim, percebe que os placebos não funcionam mais, os remédios são tão úteis como se fossem feitos de farinha de trigo. Os placebos não funcionam mais e o Seu Nada, se vê vivo e morto em seus pensamentos e memórias em meio a um turbilhão de acontecimentos caóticos que se seguem em sua frente e quando ele se pergunta: Quão complexo é o fim?

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Nosso Valor/Hora.


Contabilizamos erradas nossas horas vendidas, levamos em conta o percurso de ida e volta, mas geralmente não incluímos essa conta no "pacote".

Vendemos parte do nosso dia, e grande parte da vida a terceiros, para saciar funções básicas da vida ou até mesmo para sustentar pequenas ou grandes futilidades. Somos partes que compõe o capital de giro sendo a personificação do próprio capital e da força motriz. Entre as poucas horas que nos sobram do dia, muitos de nós vivem longe de seus empregos e perdem de 45 minutos a 3 horas no trajeto para ir à labuta.

Um cansaço repetitivo, que aos poucos cansa o corpo e a mente daqueles que já são tratados geralmente como eternos subalternos, e acabam se sobrecarregando (antes e depois do trabalho). Poucas empresas de grande porte realmente se preocupam com o percurso de seus funcionários, e só tem em conta da forma negativa (custo com vale-transporte). Infelizmente não podemos sobreviver sem a chibata do carrasco diária, mas podemos visualizar os “menos piores ” empregos.

Imaginamos que trabalhamos seja 170, ou 220 horas ao mês, mas na verdade contabilizando o tempo gasto com o trajeto, vendemos cerca de 200, ou para quem trabalha aos sábados uma diferença mínima de 30 horas a mais no acréscimo. Imagine contabilizar isso em suas horas trabalhadas! Se ganhas R$ 30,00 a hora, ganharia cerca de R$ 4800,00 – menos impostos... E quanto desse tempo vendido a terceiros foi perdido? Quanto do seu tempo perdido foi aproveitado para seu benefício próprio. Não somos escravos; somos eternos servos!


Servos de nossas ambições vazias, servos de nossa vontade de sempre querer mais, sem saber para que utilizar e porque tanto sente necessidade de querer.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Reescrevendo o Destino.


Falam para me adaptar e aceitar o que me dizem (eis o fato). Falam o que eu ganho é suficiente, que devo agradecer pelo que possuo e ser grato. Devo retirar minha capacidade cognitiva, resignar minhas vontades e enterrar meus sonhos pelo conforto que me é garantido, para ser mais exato. 

Dizem que tenho que ser pontual, constituir família, não causar alarde, ser um homem de bem. Tenho que retirar toda a minha identidade de minha personalidade, pois o que faço e o que sou pode ocasionar danos à estrutura conservadora que todos crêem.

Devo aceitar os desmandos e ordens arbitrariamente sem questionar. Tenho que desistir dos sonhos e planos utópicos, pois seria muito difícil de conquistar.

Tenho todas as metas inalcançáveis a atingir, e a força de vontade já não é a mesma de outrora. Falam para eu seguir o caminho mais fácil, e é assim que deve ser, pois não há melhora. 

Tenho apenas sensações de como deveria seguir a vida, e toda uma horda de comandos contrários a minha opinião. Os sonhos são apenas sonhos. A vida está longe do que a gente idealiza dos pensamentos noturnos na cama em algum momento de solidão.

A vida mastiga os planos, os sonhos e os desejos mais íntimos, os destrói e nos deixa nus mais do que viemos ao mundo. Infelizmente, me fiz de teimoso, me criei como uma mula e devo seguir (pelo que acham) errando. 

Devo desafiar a lógica pré-estabelecida e forçando o rumo do destino desvairado e errado, trilhar caminhos incertos e um futuro desconhecido.
Até o dia em que me sinta por completo, a satisfação de não ter mais que prosseguir em um caminho tão indefinido.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Necessidade Seletiva.


Fizeram-nos acreditar que tudo que passamos é necessário, que existe uma recompensa por todo o sofrimento. Criaram a ilusão que aboliram a escravatura, mas aboliram para ampliar seus domínios. Fizeram-nos acreditar em um conceito de liberdade utópica. 

Que temos direitos respeitados. Temos sonhos alimentados, e quebrados pela realidade que nos distorce, temos sonhos alinhados com os interesses escusos de seres que se consideram mais importantes que a maioria. Todos estão amarrados a desejos criados, que criam ansiedades e medos.

Medos criados por nós mesmos. A caminho para a labuta, o corpo segue de forma automática; as cabeças com preocupações recentemente criadas, pela necessidade de preencher o dia com pensamentos que devam significar algo. O vazio está presente e é preenchido com isopor, apenas para enganar a verdadeira crise que atormenta nossas mentes. 

Somos todos escravos, dos prazeres, dos deveres. Criamos nossas próprias correntes, e alimentamos nossos capatazes. O dia se passa com as dúvidas, angústia, e a saudade e mais todos os sentimentos conflituosos que criamos para nós, em detrimento da alegria momentânea que obtemos pelas pequenas vitórias, desde os bens comprados a eterna insatisfação que se projeta em nossa alma. 

Servos dos prazeres, que se amontoam nos transportes coletivos, se amontoam sobre o trânsito, batendo cartão e pouco se indagando do verdadeiro dever e de suas reais possibilidades na vida. A Coragem não é recompensada, o pensamento é dúbio e coletivo, e as correntes são invisíveis a olhos nus. 

Somos apenas o fruto do velho, da tradição, da repetição, dos mesmos traçados que foram inventados para nós de forma cíclica, como se fossemos o alimento de algo maior, um gado que pasta para servir de abate. Nosso molde é pré-fabricado, nossa vontade é moldada pelo desejo de ter. 

Nossos dias comemorativos são para comprar, pois nossas vidas são apenas fingimentos, (vozes nos dizem como viver). Os verdadeiros sentimentos se sentem a flor da pele, e está na camada mais funda perdida entre o encéfalo e os axônios, onde raramente encontramos.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Massa de Manobra.


Vivemos entre a escolha da subsistência e do consumismo infindável. Entre os prazeres da carne e a semiliberdade do individuo. Somos seduzidos pela fragilidade do ego, e o que achamos que seja uma necessidade. A sedução nos torna subserviente, com medo do desemprego e de nos tornamos vítima de um sistema que se movimenta como uma máquina, que tem como combustível  moer nossa carne ( e dilacerar nossa alma). Somos uma massa.


Massa que se amontoa na porta do inferno. Um indivíduo único pode ser inteligente, mas amontoado em montes se torna mais um na massa de manobra. O instinto é primitivo, a inteligência se subtrai pelas necessidades imediatas em meio a tantos outros semelhantes, e é nesse momento que o ser humano se parece mais com os animais que ele tanta referencia ser superior.

Nós, criaturas nos amontoamos como se fossemos gado, de forma quase irracional, de forma quase automática, de qualquer forma. De nada lembramos indivíduos com autonomia de vontades; somos apenas membros de um grupo maior que precisa se saciar imediatamente. Talvez seja por isso que as empresas multinacionais, governantes e a mídia se espelham em um alvo idiotizado: Seu espectro de ataque é o comboio, é o gado, somos nós; as pessoas em seu mutirão diário de desespero.

Quando em massa, nos tratamos de forma primitiva, regredimos a um estágio anterior a civilização, nos tornamos menos racionais. Nos exaltamos por sermos conscientes, criadores de navios, prédio e a bomba nuclear, mas nos remetemos a condição de gado de corte, e os mais refinados se tornam gado de leilão. A carne é fraca e vendida eventualmente a preço de banana.

No mercado a carne é vendida abaixo de tabela, o corpo é comercializado abaixo do que merece, pois em algum momento, o corpo se ausenta de ter mente, é apenas parte do coletivo absurdo. O coletivo caótico que vive em conjunto, e cresce em volume de forma catastrófica, matando o corpo como um câncer. Somos uma massa, que vive de forma desordenada, que acredita que a sociedade funciona de alguma forma no meio do caos, mas dificilmente percebemos que esse sistema funciona apenas para nos deixar em situação servil, obediente e funcional. Prontos para ser abatidos quando for preciso e necessário.

sábado, 25 de maio de 2013

Divisão Politica-Social do Brasil.


A politica brasileira esta dividia em: 
ser populista ou ser elitista.  Já se tornou uma ditadura nessas duas frentes e a cada qual com suas vantagens.

Pode-se agradar os pobres e angariar votos sendo populista, fazendo reformas de fachada e dando migalhas e ate criando alguns direitos trabalhistas. Ainda sim, serve a elite em pontos chaves, podendo assim continuar as suas empreitadas habituais. Com o advento da internet, a classe média, mais do que nunca se indigna com esse tipo de politica. Mas engole!

Em contrapartida, pode-ser ser neoliberal de direita, agradar a elite e fazer todos os seus desmandos. Por ventura a classe média que sempre está no meio e raramente é atendida, também reclama, mas com intensidade menor, pois está condicionada a ver a politica dessa forma, e agradece os bilhões que os patrões de seus patrões estão ganhando.

De teoria de Gunnar Myrdal a prática de Olof Palme, o exemplo quase utópico do bem-estar social sueco é reverenciado, mas nunca copiado,  e por muitas vezes atacado por aqueles que desejam ver a economia “expandir” (até que exploda). 

No Brasil ainda sonham com uma politica com a sabedoria de Minerva, amplamente imparcial e que invista na educação, saúde e que atenda a todas as frentes da mesma forma. Será referência global e na história da humanidade. Só depende de determinadas espécies humanas no poder, abdicarem da sua arrogância e ganancia, sua busca eterna pelo conforto e banalidades. Será fácil...

terça-feira, 21 de maio de 2013

Bolsa-esmola e o Complexo de Vira-latas.





"Boato sobre fim do Bolsa Família leva multidão a lotéricas”


A luta ideológicas de classe voltou com carga total, um rumor, um furor, quebradeira, insultos. Aqueles que esbanjam os R$ 306,00 para alimentar 5 dependentes ( e comprar talvez futilidades), contra aqueles que esbravejam sobre pão e circo do governo, compra de votos, ou o melhor “o governo tem que criar emprego para esses vagabundos”. Ideais, de idiotas que combatem outros idiotas. 
Em meio a crise externa europeia e norte-americana, o país se mantém estável, apesar das brigas partidárias e de no final ser escolher o mal ou o “pior de todos”, tudo se resume a pequenas vitórias, quando se trata de “farinha do mesmo saco”.
Como a esmola que dê para comprar um pão com manteiga, e um café com leite, tudo se resume a pequenas vitórias.
Enquanto o Estado de bem-estar social , foi orgulho e vitória de países como Noruega e Suécia, algo imitado porcamente, mas que enfim, reflete um pouco do que deveria ser no Brasil, o ideal recai sobre o país, em forma de protesto. O elitismo quer mais força de trabalho, a cana não se mói sozinha.

Discursos utópicos sobre educação, em um país reincidente em corrupção, que ainda assim, é um dos mais ricos do mundo a algumas décadas, mantem acima de tudo ricos milionários, bilionários e parlamentares (81 que  tem um custo de R$ 135,8 milhões anuais), e a culpa se recaí sempre do lado mais fraco, os menos cultos, aqueles desprovidos de educação ou apenas de perspectiva de melhora. É bem mais fácil bater do lado mais ignorante e fraco. Não se questionam sobre os desmandos de prefeitos, o maquinário de cabides de emprego e negociatas que rompem com o principio de licitações.
Mas o conceito de “Bolsa-família” ou Bolsa-esmola é o que agride mais a visão.

O modelo ideológico brasileiro, é importado, clonado e não-aperfeiçoado. Pegaram um pouco do conceito Calvinista anglo-saxão, com o melhor que perpetuou dos ideias escravocratas de um país que se tornou o último a partir os grilhões da escravidão. 
O conceito de emprego e omissão ao patrão pela esmola mensal é levado a extrema obediência. Questionar sobre o que está pronto e definido é demais, não importa se é certo ou errado, ou se o conceito empregado esta defasado 59 anos. Bater o ponto e não reclamar. 

Direitos de um presidente populista da década de 30, é o que garante o sorriso amarelo de milhões de trabalhadores atualmente. Tragar a dor e engolir a labuta, e agradecer o sonho de consumo que se repete com um ciclo: carro novo (financiado), tentativa de compra de casa própria (impulsionada pela especulação de construtoras milionárias), e todos os pequenos sabores que podemos aproveitar.Ninguém percebe que a manipulação é irrestrita e independe de bolsa-família, ou  redução de IPI para compra de carro novo para a nova classe média.
Mas o que mais incomoda é um fato estranho, independe de teorias de controle estatal ou da perfeição do estado (que sempre será imperfeito)...

Se uma pessoa ganha R$ 306,00 por mês para morar na favela, porque isso incomoda? Morar na favela, uma situação sem muita escolha devido aos altos preços dos imóveis nos grandes centros, não deixa muitos revoltados, nem mesmo a ausência de vagas em faculdade pública a pessoas com poucas posses já que a legislação garante que “aqueles mais preparados, usufruem de curso gratuito”. O pobre será o vira-lata, se olhara como vira-lata e será tratado como vira-lata, por aqueles que possuem uma situação social melhor, assim como seus semelhantes em agouro também farão. ( Não se incomodam tanto com o gasto anual dos parlamentares)

domingo, 5 de maio de 2013

O TRABALHO E A CRIAÇÃO.


texto retirado do blog : http://www.maurosantayana.com/



(HD)-Agostinho da Silva foi adversário de Salazar em tudo: como filósofo, desmentiu o ditador, que afirmava não ser a sua raça (e a nossa) incapaz de abstrações filosóficas. É desse pensador, que passou grande parte de sua vida no Brasil como exilado político, a idéia de que o homem não nasceu para trabalhar, e, sim, para criar. Não é por acaso que o vocábulo “trabalho” vem do latim “tripalium”, que era um instrumento de tortura na Antiguidade.

Os artesãos não “trabalham”, uma vez que criam suas peças; a elas, sem que percam o fim útil a que se destinam, acrescentam alguma coisa de si mesmos, do seu engenho e do seu sentido estético. Assim, são “obras de arte”.
No mundo industrial de nossos dias já não existem artesãos, a não ser os que, por decisão própria, vivem à margem do sistema, embora por ele sejam também explorados. Os desenhistas industriais podem criar, mas o seu trabalho está sempre submetido às razões do mercado, o que lhes retira a liberdade. Só dele conseguem escapar plenamente os artistas, em estrito senso, quando não se deixam levar pela ambição do dinheiro.

 Ao fazer a crítica do sistema industrial moderno, Marx acertou no centro do alvo, ao afirmar que o trabalhador de nosso tempo se transformou em “complemento vivo de um organismo morto”. Os trabalhadores são obrigados a acompanhar o ritmo das máquinas; não podem sujeitá-las às exigências de sua atenção e de seus músculos.

Em Tempos Modernos, Charles Chaplin, com seu talento, conseguiu dar à idéia de Marx as belas imagens que mostram a servidão do operário à máquina e, por extensão, às engrenagens do capitalismo.

Quando os tecelões ingleses se revoltaram no fim do século 18, aparentemente sob a liderança de Ned Ludd, contra os teares a vapor, não manifestavam apenas seu mal-estar com o desemprego que a força motriz provocava: rebelavam-se pelo fato de que a nova máquina lhes exigia atenção máxima e repetição exaustiva do movimento de corrigir as falhas da tecelagem, no parar e reiniciar das operações.

O homem não nasceu para trabalhar, mas deve ser produtor, a fim de se afastar das duras condições da natureza bruta. O ato de produzir – e podemos pensar no coletor, no caçador e no agricultor em sua situação clássica – não é alienante em si mesmo. Exige destreza, atenção e criatividade. Mas, nos dias de hoje, sobram poucos agricultores livres. Ao chegar ao campo, o capitalismo aposentou os lavradores e criou um operariado rural para manobrar as grandes máquinas que preparam o solo, plantam e colhem.

Essas novas realidades estão minguando o espírito de luta dos trabalhadores. O dia primeiro de maio lembra a sua dura resistência contra a brutalidade do liberalismo dos séculos 18 e 19.
A ordem de domínio neoliberal de nossos dias transformou-o em dia de festas e piquenique.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Uma Visão sobre a Miséria.


“Todos tem a mesma chance de alcançar o sucesso”, “O sol nasce para todos, só não enxerga quem não quer”, “O sucesso no trabalho e a consequente riqueza poderá ser um dos sinais de que está entre os escolhidos de Deus”. ( Como diria João Calvino, que revolucionou a ideologia burguesa)

Existem diversos ditados, diversas ideologias difundidas pelo tempo em que exemplifica que a justiça divina recompensa àquele que trabalha mais com riqueza. Aquele que for “melhor” será o mais rico. A riqueza é uma recompensa, um prêmio, com conceito de meritocracia.

A pobreza existe às vezes como arma ideológica. Em certos países, a pobreza é fruto da riqueza, onde recursos naturais e corrupção geram a ruína econômica e ainda sim privilegia alguns poucos, tornando-os ricos em terras de esfomeados.

As favelas persistem desde o século passado, e se mantém afastadas dos centros física e psicologicamente. O pobre de fato, é tratado como um “gado”, quase uma forma de vida subdesenvolvida, que existe para determinado fim (consumir) e já ganhou até apelidos como “proletariado”, pois criaria uma “prole” que viria a ser uma nova engrenagem no maquinário existente.

Existe uma admiração pelo cidadão bilionário, uma admiração que beira a inveja. Na verdade, o “mais rico” é visto como sonho de consumo, um ideal a ser alcançado; Sucesso legitimo de quem chegou “lá” por suas próprias pernas e qualquer um pode chegar lá!

Na verdade, a pobreza (para quem defende o sucesso de alguns países diante de crises pós-guerra da Europa ocidental), vem de suas pessoas, e nada tem a ver com a intervenção do estado junto com multinacionais que exploram o meio em que estes vivem. 

Em primeiro lugar o desrespeito e a visão diferenciada daquelas pessoas que se acham melhores e quem por direito devem estar em tal status social, é a pedra fundamental da exploração. Se houvesse a inversão de papéis daqueles que se acham diferentes, talvez mudassem de ideia.

A extrema esquerda com seu autoritarismo mata as claras, dissemina ódio e controle estatal. A extrema direita mata as escuras, de fome, cria abismos culturais e sociais, com alusão a liberdade e livre comércio. Mas a concorrência segue desleal, e a ajuda estatal vem a cavalo quando o lucro cai em alguns países filiais. Bancos galopam a lucros históricos batendo recordes enquanto países de 1º mundo enfrentam crises colossais por meses ou anos. 

A pobreza é argumentada em dados, estatística e dificilmente se entra em méritos nos detalhes que poucos querem ver: 
"Quem se importa com uma criança negra, com doença, na África sub-saariana?" Quem se importa com um nordestino que vive na seca sem perspectiva alguma no Agreste? Quem ao menos imagina que um morador de favela do extremo sul da cidade de São Paulo (a mais rica do Brasil), possa ser útil a sociedade de forma direta?

 Os sentimentos influem na pior maneira em análises sobre a solução de problemas básicos que concernem a miséria. Foi o preconceito que fundamentou a escravidão, e posteriormente, cuidou de criar as diferenciações sociais, como uma parede invisível em diversas sociedades, e essa parede que se posta como  um muro maior que a muralha da China, em frente a pessoas e grupos sociais.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Will, Robô!





Bom dia sou um android com falhas no funcionamento, a programação recebida tende a falhar constantemente. 
Meu sistema está travando, muitos bugs com direito a legs no processamento dos dados, devido a uso contínuo sem atualizações e manutenção. Preciso fazer uma atualização urgente, modificar algumas peças, fazer upgrade de mecanismos obsoletos.

Preciso de manutenção para as peças desgastadas e que não funcionam como deveriam. Como um ser autômato, é difícil entender como funciona o sistema, pois estou apenas servindo a seu propósito lógico que é existir e realizar as funções básicas. Não devo questionar, pois não é minha função, e devo ser apto a realizar as tarefas que me são dadas. Por ser autômato, não posso ficar doente ou ter qualquer tipo de mazela ou problema pessoal que venha a retirar minhas atenções das tarefas a serem executadas, e por isso minha performance nunca será depreciada. 


Não posso falhar, pois meu sistema operacional não permite falhas. E como ser autômato, sou guiado por um sistema operacional, que também responde a um sistema integrado mais amplo de funcionamento, com regras e diretrizes básicas. Por ser esse sistema integrado, algo tradicional e controlado de forma segura a muitos anos, não deve ser contestado, pois não há contraprova de que ele realmente falhe.


O sistema funciona a pleno vapor antes mesmo de sermos construídos, pois é algo que foi passado de pai para filhos desde os tempos mais remotos e que foi a pedra fundamental para criação do sistema. Apesar de ter alguns bug´s e ter sido exposto alguma brecha de segurança ainda é utilizada de forma cabal pela maioria, como se fosse a única forma de funcionamento para nós, robôs. Entre as diversas diretrizes do sistema, dizem para fazer o bem não importa a quem, mas em dias em que o egoísmo é a razão de ser, o "bem" é interpretado de diversas formas, que é confuso entenderem o seu significado.


O bem pessoal, o bem que tem algum retorno para si, esbarra na incapacidade de reciprocidade e no fim, ninguém realmente se pergunta: o que é realmente "bem"? Como não se pergunta sobre diversos acontecimentos, pois a resposta vem pronta pelo sistema integrado. Tenho minha função bem pré-definida, e as operações básicas devem ser executadas sem morosidade. 


Claramente, por ser parte de um sistema muito mais complexo e ser um ser autômato, estou livre do discernimento de ter que indagar sobre o real funcionamento do sistema, pois isso cabe aos arquitetos e programadores que especificaram todo esse aparato que deve dar suporte a meu funcionamento. Nem mesmo Asimov poderia conceber diretrizes tão perfeitas a esse sistema como está sendo concebido atualmente, por tais arquitetos e programadores.






Cadeia Neles!



Cadeia não educa ninguém, no máximo faz um a cada dez se arrepender. 
Cadeia é só pra trancar e jogar a chave fora. Esquecer e postergar o problema. Um indivíduo danoso à sociedade e que precisa estar fora dela para "melhorar" e pensar sobre os crimes que cometeu (e quantos realmente melhoram?).
Quem é "do crime”, continua sendo o mesmo, salvo exceções. Querem ser "humanos" e preservar a dignidade da pessoa, mas ficam em cima do muro quanto à punição.

Querem punir o menor da mesma forma que o adulto, como se melhorasse a situação do mesmo. É possível que volte pior e melhor "treinado" a assaltar com novos "parças". Não dá para passar a mão na cabeça e ao mesmo tempo castigar. A indecisão da sociedade e a forma com que evitam tratar dos assuntos prisionais, só posterga o problema. A punição é a reclusão, mas sem a dignidade não há recuperação.

É a indecisão combinada com a demagogia de sempre, que esbarra na inocência ou falta de bom senso da maioria da população.
"Cadeia pro bandido", mas "temos que manter a dignidade da pessoa humana", acaba que não se satisfaz nem um e nem outro. Quem realmente deveria ir para cadeia, ser punido por crimes não vai, responde em liberdade, cadeia só para ladrão pobre, que por insensatez tenaz, (além do óbvio de ter se tornado ladrão), acaba por roubar quem menos tem nas periferias e classe média das cidades.

Ladrões pobres (e burros, diga-se de passagem), são trancafiados com chefes de tráfico, e acabam por se associar a facção criminosa e obrigado a pagar mensalidade ou ter bens capturados ou até mesmo a morte decretada, e quando sair da cadeia, suas chances de reabilitação serão escassas, pois será sempre "o bandido". O sistema admite que a pessoa possa se recuperar, mas não cria formas para que isso seja feito. 

Não cria trabalho nas cadeias, não facilita à reintegração a sociedade. E aqueles que são os “mandantes”, aqueles que seriam em um tabuleiro de xadrez, chamados de "reis e rainhas", são presos em unidades especiais, mas que continuam subornando carcereiros ou  ameaçando-os de morte para que mantenham suas facilidades habituais, sem chance ou vontade de se reabilitarem, são apenas mais "um indivíduo" que tentam esquecer no presidio, que vez ou outra acabam criando rebeliões e demonstram o controle que o crime tem sobre o policiamento, com verdadeiras "células-terroristas" atacando policiais a paisana e em operação (com informações de policiais corruptos)! 

Legislação atrasada e retrógrada, poucos juízes e uma justiça morosa que peca pela falta de agilidade nos seus processos. Espera-se anos por um recurso, enquanto quem deveria estar em cárcere, responde via fiança, pois, se tem condição financeira, não deve fazer tão mal a sociedade, não é?

Se a justiça fosse algo plausível, algo que parecesse justo, e se juízes e promotores, além da policia federal não fossem tão suscetíveis à corrupção e/ou deixassem de ser armas políticas de partido e empresas conveniadas, ou se pelo menos não fosse um processo tão moroso e fosse mais transparente a todos, e se deixassem de lado a demagogia, e entendessem que "pau que nasce torto, não se endireita", na verdade, pau que nasce torto, tem que se quebrar.

Recuperar com dignidade aqueles que cometem crimes menores, dar chance de reintegração a sociedade e criar âmbito de trabalho nos complexos prisional, fazendo até essa mão-de-obra ociosa render algo a sociedade, e infelizmente, eliminar os "reis e rainhas", os "irrecuperáveis" que são trancafiados indefinidamente, e aqueles que são reincidentes de crimes hediondos, nesse Xadrez tenebroso, no qual estamos sempre perdendo.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

O Maior Vencedor.



Se eu fechar os olhos, talvez não veja o que há de ruim acontecendo. Se eu não souber, me privo da preocupação.

O meu objetivo é ser bilionário e comprar tudo que o dinheiro pode comprar. Todos os bens materiais imagináveis, todas as coisas que despertam o desejo de consumo.
Para isso não pouparei esforços em conseguir o que quero. Serei o mais ambicioso possível, não vou medir esforços para conseguir tudo que quero e meu lugar de destaque na Forbes. Preciso negociar com o governo, aliado perfeito nessas empreitadas, para conseguir licitações que certamente me darão lucro considerável, será preciso utilizar per$uasão e talvez até de um pouco de força para termos as pessoas certas a minha disposição.

Preciso criar especulação no mercado de ações, criar rumores que serão utilizados por pretensos investidores internacionais, mas antes de tudo, preciso de financiamento do banco nacional do desenvolvimento, para garantir meus passos incautos. Posso utilizar formas não muito claras de enriquecimento, mas a “grosso modo”, quem estará acompanhando? Os juízes certos, os deputados e ministros certos, a emissora certa, o braço da policia federal, é tudo que preciso.

Mais do que gastos: são investimentos! Preciso mostrar minha face mais rica do que realmente é, pois gostam dessa face. Serei a encarnação viva do sucesso! A personificação daquele "que deu certo na vida".

Serei referência entres os incautos. Serei fruto da inveja e idolatrado por pessoas egoístas que seguem meus passos. Donald Trump tupiniquim, o sonho de consumo da classe média que não se remete a sua insignificância (eles não sabem o bom da vida).
Terei meu status, meus bens e serei o epicentro de tudo... Posso pagar meus pecados na igreja, posso converter minha fé pelas minhas ações, pois sei que tudo que fiz foi necessário, até mesmo eventuais perdas humanas foram mais do que necessárias! Só preciso esquecer a consciência e fazer oque for necessário. Pois assim que somos e nessa
terra, sou o maior vencedor!

domingo, 17 de março de 2013

Os idiotas confessos By Nelson Rodrigues (19/8/1968) in A Cabra Vadia.



Antigamente, o idiota era o idiota. Nenhum ser tão sem mistério e repito: — tão cristalino. O sujeito o identificava, a olho nu, no meio de milhões. E mais: — o primeiro a identificar-se como tal era o próprio idiota. Não sei se me entendem. No passado, o marido era o último a saber. Sabiam os vizinhos, os credores, os familiares, os conhecidos e os desconhecidos. Só ele, marido, era obtusamente cego para o óbvio ululante.
Sim, o traído ia para as esquinas, botecos e retretas gabar a infiel: — “Uma santa! Uma santa!”. Mas o tempo passou. Hoje, dá-se o inverso. O primeiro a saber é o marido. Pode fingir-se de cego. Mas sabe, eis a verdade, sabe. Lembro-me de um que sabia endereço, hora, dia etc. etc.
Pois o idiota era o primeiro a saber-se idiota. Não tinha nenhuma ilusão. E uma das cenas mais fortes que vi, em toda a minha infância, foi a de uma autoflagelação. Um vizinho berrava, atirando rútilas patadas: — “Eu sou um quadrúpede!”. Nenhuma objeção. E, então, insistia, heróico: — “Sou um quadrúpede de 28 patas!”. Não precisara beber para essa extroversão triunfal. Era um límpido, translúcido idiota.
E o imbecil como tal se comportava. Nascia numa família também de imbecis. Nem os avós, nem os pais, nem os tios, eram piores ou melhores. E, como todos eram idiotas, ninguém pensava. Tinha-se como certo que só uma pequena e seletíssima elite podia pensar. A vida política estava reservada aos “melhores”. Só os “melhores”, repito, só os “melhores” ousavam o gesto político, o ato político, o pensamento político, a decisão política, o crime político.
Por saber-se idiota, o sujeito babava na gravata de humildade. Na rua, deslizava, rente à parede, envergonhado da própria inépcia e da própria burrice. Não passava do quarto ano primário. E quando cruzava com um dos “melhores”, só faltava lamber-lhe as botas como uma cadelinha amestrada. Nunca, nunca o idiota ousaria ler, aprender, estudar, além de limites ferozes. No romance, ia até ao Maria, a desgraçada.
Vejam bem: — o imbecil não se envergonhava de o ser. Havia plena acomodação entre ele e sua insignificância. E admitia que só os “melhores” podem pensar, agir, decidir. Pois bem. O mundo foi assim, até outro dia. Há coisa de três ou quatro anos, uma telefonista aposentada me dizia: — “Eu não tenho o intelectual muito desenvolvido”. Não era queixa, era uma constatação. Santa senhora! Foi talvez a última idiota confessa do nosso tempo.
De repente, os idiotas descobriram que são em maior número. Sempre foram em maior número e não percebiam o óbvio ululante. E mais descobriram: — a vergonhosa inferioridade numérica dos “melhores”. Para um “gênio”, 800 mil, 1 milhão, 2 milhões, 3 milhões de cretinos. E, certo dia, um idiota resolveu testar o poder numérico: — trepou num caixote e fez um discurso. Logo se improvisou uma multidão. O orador teve a solidariedade fulminante dos outros idiotas. A multidão crescia como num pesadelo. Em quinze minutos, mugia, ali, uma massa de meio milhão.
Se o orador fosse Cristo, ou Buda, ou Maomé, não teria a audiência de um vira-lata, de um gato vadio. Teríamos de ser cada um de nós um pequeno Cristo, um pequeno Buda, um pequeno Maomé. Outrora, os imbecis faziam platéia para os “superiores”. Hoje, não. Hoje, só há platéia para o idiota. É preciso ser idiota indubitável para se ter emprego, salários, atuação, influência, amantes, carros, jóias etc. etc.
Quanto aos “melhores”, ou mudam, e imitam os cretinos, ou não sobrevivem. O inglês Wells, que tinha, em todos os seus escritos, uma pose profética, só não previu a “invasão dos idiotas”. E, de fato, eles explodem por toda parte: são professores, sociólogos, poetas, magistrados, cineastas, industriais. O dinheiro, a fé, a ciência, as artes, a tecnologia, a moral, tudo, tudo está nas mãos dos patetas.
E, então, os valores da vida começaram a apodrecer. Sim, estão apodrecendo nas nossas barbas espantadíssimas. As hierarquias vão ruindo como cúpulas de pauzinhos de fósforos. E nem precisamos ampliar muito a nossa visão. Vamos fixar apenas o problema religioso. A Igreja tem uma hierarquia de 2 mil anos. Tal hierarquia precisa ser preservada ou a própria Igreja não dura mais quinze minutos. No dia em que um coroinha começar a questionar o papa, ou Jesus, ou Virgem Maria, será exatamente o fim.
É o que está acontecendo. Nem se pense que a “invasão dos idiotas” só ocorreu no Brasil. Se fosse uma crise apenas brasileira, cada um de nós podia resmungar: — “Subdesenvolvimento” — e estaria encerrada a questão. Mas é uma realidade mundial. Em que pese a dessemelhança de idioma e paisagem, nada mais parecido com um idiota do que outro idiota. Todos são gêmeos, estejam uns aqui, outros em Cingapura.
Mas eu falava de que mesmo? Ah, da Igreja. Um dia, ao voltar de Roma, o dr. Alceu falou aos jornalistas. E atira, pela janela, 2 mil anos de fé. É pensador, um alto espírito e, pior, uma grande voz católica. Segundo ele, durante os vinte séculos, a Igreja não foi senão uma lacaia das classes dominantes, uma lacaia dos privilégios mais hediondos. Portanto, a Igreja é o próprio Cinismo, a própria Iniqüidade, a própria Abjeção, a própria Bandalheira (e vai tudo com a inicial maiúscula).
Mas quem diz isso? É o Diabo, em versão do teatro de revista? Não. É uma inteligência, uma cultura, um homem de bem e de fé. De mais a mais, o dr. Alceu tinha acabado de beijar a mão de Sua Santidade. Vinha de Roma, a eterna. E reduz a Igreja a uma vil e gigantesca impostura. Mas se ele o diz, e tem razão, vamos, já, já, fechar a Igreja e confiscar-lhe as pratas.
Cabe então a pergunta: — “O dr. Alceu pensa assim?”. Não. Em outra época, foi um dos “melhores”. Mas agora é preciso adular os idiotas, conquistar-lhes o apoio numérico. Hoje, até o gênio se finge imbecil. Nada de ser gênio, santo, herói ou simplesmente homem de bem. Os idiotas não os toleram. E as freiras põem short, maiô e posam para Manchete como se fossem do teatro rebolado. Por outro lado, d. Hélder quer missa com reco-reco, tamborim, pandeiro e cuíca. É a missa cômica e Jesus fazendo passista de Carlos Machado. Tem mais: — o papa visitará a América Latina. Segundo os jornais, teme-se que o papa seja agredido, assassinado, ultrajado etc. etc. A imprensa dá a notícia com a maior naturalidade, sem acrescentar ao fato um ponto de exclamação. São os idiotas, os idiotas, os idiotas.

terça-feira, 12 de março de 2013

Os Pecados dos Imperfeitos.



O mundo corrompe as pessoas, ou mostra realmente quem somos? Nas crianças percebemos a bondade imaculada, que vai se perdendo com o passar dos anos. O individuo se cerca, protegendo-se dos ataques, criando defesas contra as austeridades do meio em que vive.

Não é atoa que esperam por um “salvador”, um “escolhido”, que seja imaculado e puro, que traga a redenção para todos. Na verdade procuram a própria salvação, pois aceitam seus próprios pecados isentos de modificação, aceitam-se os pecados sem abdicar de quem é, e da pior forma possível, não admitem ou se rendem aos próprios erros:

Admitem que erram, mas não que são errados. Procuram uma absolvição já que se sentem incapazes de mudar por si só. Não aceitam a culpa, mas dizem-se imperfeitos, a mea culpa, se faz presente.

Querem a salvação da própria alma sem se modificar, sem lutar pelas próprias convicções, se tornando refém de algo mágico e maravilhoso, de uma compensação divina ou do além.
 As recompensas além-mundo, ou até mesmo desse mundo, as questões éticas e leis proclamadas são o que podam o ser, de sua natural ação egoísta e egocêntrica, freiam suas ações impulsivas (na maior parte, repulsivas) que os remetem a puros animais, esses que enchem o peito para dizer ser a imagem da perfeição e serem racionais.

 O eixo do mundo gira em torno do individual, o “eu” é algo importante demais para ser colocado em coletivo, e o mesmo só é lembrado quando se tem algum beneficio em troca. O ar de superioridade, o detrimento do outrem, a vontade de ser melhor que alguém apenas por ser, é o que move os dias de hoje. A bondade parece extinta e fictícia, e talvez por isso criam-se a figura do ser imaculado, que deveria ser o padrão social, mas que é visto como divino, por fazer aquilo que a maioria deveria fazer.

Símbolos que são mantidos por séculos, mas que parecem ser “inalcançáveis”, por seus seguidores. Nem mesmo as ideologias são seguidas afinco. São deturpadas e moldadas a bel prazer, para saciar as necessidades do ego, da vontade de parecer ser superior, das necessidades que não são bem tão essenciais assim...

Esperamos um salvador para nos salvar de nós mesmo. Temos medo do escuro, da morte, da dor, e de tudo mais que nos mostre nossas fraquezas. Esperamos uma absolvição de alguém superior que deixará nossos defeitos de lado, (como não fazemos com os outros semelhantes) e nos tornara parte da perfeição, e o mais importante, esperamos que nossa demagogia funcione, apesar de todos os erros e mentiras e que se existir um ser superior realmente, que esse nos absolva apesar de não merecermos, porque deixamos escapar qualquer chance de fazer a diferença.

segunda-feira, 11 de março de 2013

O Sonho do Mercado Livre!


Enquanto se acha que o livre mercado é a saída, não se pensa em todos os acordos por debaixo do pano. Conglomerados sendo formados nas surdinas, acordos empresariais que se aproximam do termo “Cartel”, oligopólio é a nova forma de mercado, transvestido de liberdade. A democracia se mescla na política intercontinental das empresas que utilizam trabalho terceirizado, para diminuir seus custos. Os países de origem da matriz se tornam apenas uma lembrança, pois a verdadeira força das multinacionais é motivada pelo outsourcing e venda intercontinental.

Enquanto o mais simplório cidadão de classe média do país emergente se ilude com teorias do livre mercado tão apregoados pela mídia corporativista, e ainda defendem a concentração de renda por uma minoria que se mantém no poder a gerações que por intermédio de uma concepção já secular, se imagina um dia ser tão rico quanto o seu admirado ídolo milionário, sem pensar na constatação que entre eles, quanto menos milionários, maior é a repartição do lucro!

A ideia de “O trabalho enobrece a alma”, e “ele é rico e fez por merecer, trabalhando”, ainda se esconde no subconsciente ignorante da maior parte da população. Não se leva em conta os artifícios usados para alcançar os seus objetivos. Enquanto o “bem-estar social” é algo que parece estar longe de um país emergente, e o mesmo sofre duras penas na realidade globalizada, e enquanto a participação de lucros da empresa parece ser um conto de fadas que só existe em mundos utópicos, continuamos subdesenvolvidos.
Não se contesta a concentração de renda ou concentração midiática, por quê? 

Talvez o sentimento de inveja com o pouco de admiração de querer se tornar aquele padrão rico e “bem-sucedido”, além da ideologia de “ter é poder”, seja uma das alavancas que constituem o mercado ocidental, principalmente no Brasil, onde a ideologia conflituosa se permanece desde a escravidão aos dias de hoje se arrastando pelas sombras, não sendo invocadas de boca cheia, mas que persistem com arquétipos raciais e sociais, em uma luta de classes que persiste desde os tempos da senzala, passando pelos cortiços e aterrissando nas milhares de favelas existentes que rasgam a região periféricas das grandes, médias e também pequenas cidades.


Política Utópica.



É fácil pensar em governos ideais e utópicos. É ideal imaginar que a politica publica nos beneficiaria, individualmente, a todos os quereres. Mas não se imagina a corrupção inerente ao poder. Não se imagina que a politica é impulsionada por trocas de favores.

Enquanto a mídia empresarial enaltece os seus interesses e contratos publicitários, tentando motivar revoltas vazias em mentes frágeis, acomodadas em seus pequenos confortos, a politica segue seus passos sombrios como de costume, muda-se a bandeira, a legenda, tende-se a ter algumas flexões ideológicas como populismo ou privatizações para o mercado estrangeiro, mas no seu cerne os maiores interessados são os que ostentam o poder e vivem do seu regalo e que não ligam para o seu dia-a-dia maçante.

Querem enxergar um céu com arco-íris, mas o que existe é um céu cinza. São poucos os políticos realmente honestos. (e se mesmo quando não se é politico, é difícil de encontrar uma alma que não seja tão egoísta e alienada em seus próprios interesses, como exigir esse comportamento de alguém?). É cada um por si e todos contra todos. Um mundo mais selvagem que qualquer animal irracional poderia aguentar.

A classe politica move-se como se fosse independente, dita o seu querer como se não precisasse prestar contas à sociedade, e enquanto a sociedade se alienar pela mídia publicitária e seus próprios afazeres e prazeres fugazes, acha que nada irá mudar e reclama em “boca pequena”, mas afinal quem se importa?

quinta-feira, 7 de março de 2013

Cotidiano Ordinário.


Olhos cansados, pensativos e amontoados em todos os seus problemas do dia-a-dia. Pensar além da necessidade é quase um crime bestial. Acomodar-se em seus sofás e manter a mente desligada a maior parte do tempo, é o segredo do sucesso que inibe a taquicardia (não é bem um sucesso, mas sim uma forma de lobotomia social).

Pagar as contas do mês, ser um servil devoto, se amontoar sobre os vagões da vida, e agradecer por tudo que lhe é dado na volta do seu percurso diário e amaldiçoando todo o martírio na ida.
É possível aguentar quase todo o sofrimento, virar o rosto para oferecer a outra face, porque é assim que tem que ser (sem muita sensatez), e alguém um dia a muito tempo atrás comentou algo nesse gênero (talvez!).

É preciso aguentar até o último suspiro, se enganar com os prazeres momentâneos como se fossem eternos e temer o que não conhecido a cada respiro.
O medo é quase irracional, transformam os reis em simples animais, os donos em simples peças. 

Toda a forma é mudada para se sentir medo, e se sentir inseguro e para lutar pelo pão pisoteado pela figura mítica do mal que reside em vossa cabeça. No fim, de cada prece, no fim de cada dia, a busca da redenção eterna, e a sensação de que tudo deve valer a pena, porque senão, seria ilógico viver dessa maneira severa.