Não tenho pena dos alcoólatras que trocam sua vida pela garrafa. Encharcam-se
dizendo que isso é diversão. Entorpecem seu corpo até o vômito chegar e dizer
que basta. O sentido da alegria se traduz no comercial de cerveja.
A diversão é
tomar uma “breja”, mas o sentido real é beber e tragar o sentido real! Não
tenho pena, mas entendo.
Daqueles que se entopem com a maconha, aspirando sua fumaça mesmo
contrariando as leis ortodoxas do país e se vendo na linha cruzada do tráfico e
a repressão, queimando seus neurônios e necrosando seus pulmões. Não preciso
concordar, mas eu entendo.
Daqueles que cheiram cola
nas ruas para ficar loucos, esquecer o frio e a fome, ou só por diversão
momentânea. Roubam para alimentar o vício. Sem perspectiva de vida. Não sei
quais são os culpados, mas eu entendo.
Daqueles que criam qualquer vício, do pó ao álcool, passando por
qualquer cogumelo atômico que faça se perder a cabeça.
Não preciso perdoar ou dar benção, mas entendo.
São as fugas. As
fugas das fugas. Fuga da verdade.
Da realidade que por si só parece ilógica e
massacrante.
A fuga de saber que precisa de fuga.
A fuga de tudo que pode te
machucar sem saber como retaliar.
Sempre a fuga da realidade. O ópio teve diversos filhos, uns abençoados outros bastardos.
Uma forma de se
alienar de tudo que conhece como mundo. Uma forma de fugir dentro de si. Onde
possa escapar sem ser visto. Mas o efeito passa e a realidade retorna com sua
botina sobre o pescoço.
E esse é o ciclo interminável, de fuga e arrebate da realidade.
Correr indeterminadamente atrás das fantasias e sonhos acordados, até ser
encontrado (e levado de volta a realidade)...
Enquanto isso, a própria
realidade que aprisiona vai se desabando e se tornando mais insustentável. Não
fuga até que chega a mãe de todas as fugas, e ai, é simplesmente o fim. Não
posso compactuar, mas entendo. Se conseguisse me convencer de que sinto prazer nessas fugas, e se conseguisse realmente fugir totalmente, entenderia mais.
De todos os males e todos os pecados, eu entendo.
De todos os males e todos os pecados, eu entendo.
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