Há alguns
anos sai da vagina de minha mãe. Seria fantástico se não fosse trágico. Fui
atingido por raios cintilantes sobre meus pobres olhos, puxado com força e
cortado meu cordão umbilical. Esse foi apenas o começo da violência.
Sou
incrivelmente chato e não morro nunca. Imortal na minha boçalidade. Tem dias
que é bom chorar para ver se explode alguma coisa fora. Por onde explodem as
bombas atômicas além de aqui, dentro de nós?
As
palavras caem como bombas, o estrago é incalculável. Para que desejar amor
eterno se não há vida que dure tanto amor? No fim nunca chegamos ao fim.
Dizemos adeus tantas vezes.
Vivo por
ai vazio (porque andaria cheio, além de banhas?) e existe um fogo que queima em
mim de um combustível incolor e inodoro. Vivo nesse hospício por falta de
liberação. Preso nessa carcaça de pele, ossos (e banha) sou eu sem saber o que
realmente ser. Tenho o rosto no espelho, um nome e CPF. Mas tão vazio.
Dentro de
mim, ignorando o corpo como adiabático,
o sangue que não passa do 39º fervilha e sem ebulir como em uma panela de
pressão inexistente, cria revoluções imaginárias na mente.
Faz-me
pensar como somos pilhados e por vezes batidos em um liquidificador como ração
a outras camadas mais ávidas em destruir nossos reflexos. O monstro que somos e
nos devoramos.
Construídos para nos manter em divisões estamentais, manter a
ordem que é uma desordem dos privilegiados. Para quem se rebela existe a
acomodação, o sofrimento ou a alienação obrigatória. Vivo e me devoro na ação do ato auto-antropofágico. Dia após
dia, sigo na contagem da vida, com a uma bússola quebrada em uma mão e uma
ampulheta com areia e cimento em outra... (onde se caem gotas de água dentro).
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