Não quero que desfaçam de minhas ilusões; Sou um inveterado hipócrita que vive das concepções errôneas que minhas sinapses podem perceber.
A miscigenação de um povo extinto, entre outro escravizado e o próprio colonizador me forneceu o DNA dúbio. O estrago foi feito a centenas de anos.
Tão paradoxal quanto é a realidade, é minha personalidade, que vive em antítese frequente.
Criado para ser uma criatura racional e quantificar, raciocinar e imaginar... acaba se perdendo no absurdo que é a vida.
Na ilógica matéria que a precede.
Na superficialidade criada há tantos séculos, entregue de pai a filho.
Não quero que desfaçam de minhas ilusões; Sou alimentado pela televisão.
Os livros escritos pelos mesmos erros de sempre.
Escritores errados em vidas erradas.
Sou criado pela mentira, em rios que não se navegam e em ares que não se deve respirar.
Sou feito para sonhar, pois quando fecho os olhos, me desfaço dos pesos em meus ombros, das responsabilidades e custos de se viver. Para viver é preciso ter.
Senão, está fora do meio civil; Para morrer é preciso ter. Senão, estará morto em uma vala comum. Parece ser um ambiente hostil para viver e sobreviver se torna a meta única.
Entre os bem nascidos e malditos, a milhões de diferença. Quando vejo como evoluiu a espécie humana, me admiro a quantidade de pessoas no mundo e a raridade de se encontrar seres humanos!
Tanto é que pensam em colocá-los em jaulas, param procriar e manter salva a espécie. Será bom para visitá-los ao domingo com família.
Não quero que desfaçam de minhas ilusões; Fui criado em crer que especiais. Se trabalhar muito será rico. Se tentar a sorte na lotofácil, poderá ganhar. Que querer é poder.
Se muito desejar, você consegue. Falam-me tantas coisas nas revistas e televisão.
Odiaria que tudo isso fosse mentira. Odiaria saber que a vida não tem sentido lógico; Que não existe um ser superior bondoso ouvindo minhas preces. Não quero que desfaçam de minhas ilusões!
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