domingo, 1 de maio de 2016

Aula de Anatomia


Na aula de anatomia veremos os corpos de indigentes,
Prontos para dissecação por mãos indiferentes, 
A pele, os músculos e até os ossos: Tudo será estudado, 
Menos o nome e a história do dito cujo finado, 

Sem falar de sistemas econômicos, ou do quadro social, 
Mas gostaria de saber como se chegou a esse ponto crucial, 
Quem foi você? Alguém chorou por ti? O que aconteceu? 
Quem velou teu corpo e quem te esqueceu? 

Foram os parentes, os amigos? Enfim, falhamos como sociedade? 
Como pode ser tão comum ver tamanha miséria em passividade? 
Na sala ficam para estudo, aqueles corpos finados, 
Frios, mas não tanto quanto há milhares de corações gelados.


Oração ao Cadáver Desconhecido 

"Ao curvar-te com a lâmina rija de teu bisturi sobre o cadáver desconhecido, lembra-te que este corpo nasceu do amor de duas almas; cresceu embalado pela fé e esperança  ldaquela que em seu seio o agasalhou, sorriu e sonhou os mesmos sonhos das crianças e dos jovens; por certo amou e foi amado e sentiu saudades dos outros que partiram, acalentou um amanhã feliz e agora jaz na fria lousa, sem que por ele tivesse derramado uma lágrima sequer, sem que tivesse uma só prece. Seu nome só Deus o sabe; mas o destino inexorável deu-lhe o poder e a grandeza de servir a humanidade que por ele passou indiferente." 

Karl Rokitansky (1876) 

Ao cadáver, respeito e agradecimento.

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