Rei Lear - William Shakespeare
Somos os loucos e os palhaços. Os palhaços sem plateia e deprimidos. Os loucos sem medicação e a solta. Como podemos aceitar o absurdo da vida com eterno otimismo? Como não chorar com o apocalipse diário? A hipocrisia fixou na face e na alma, como se fosse verdadeira. Acredita-se tanto no absurdo e nas mentiras como forma de amenizar a insignificância sobre a ignorância do ser.
Nós que aqui estamos vivendo sem saber o porquê, inventamos desculpas eternas. Drogas para consumir e absorver as dúvidas. A cada gota de álcool vem à alegria. A cada grama de coca, somem as dificuldades. A cada tragada no cigarro, se sente o paraíso. Tudo se torna fuga: as drogas diárias, a TV e suas mentiras confortáveis, as pessoas e suas crenças admiráveis.
A busca pelo prazer é a satisfação maior por estar vivo. O significado da vida se torna slogan de comercial de margarina. Precisamos ser felizes. E por quê? Temos instintivamente (na maior parte do tempo e na maioria das pessoas) a vontade intrínseca de continuar existindo. Lutamos pela continuação da existência mesmo vivendo no mundo de absurdos e onde o dinheiro compensa a morte de um indivíduo e/ou milhões. Onde temos a fé em algo inacreditável. Se contássemos a algum espectador fora desse espetáculo de horror, ele ficaria: abismado, horrorizado, enojado ou teria um simples riso irônico?
Em alguns tempos aparecem seres que destoam desse painel ridículo e assim, os próprios são usados como símbolo máximo da espécie. Para cada Platão e Sócrates, houve milhões ou até bilhões que desvirtuariam a imagem do homem sapiente. Para cada Einstein, milhões para nos mostrarmos que ainda somos primatas diferentes, nem mesmo "melhorados". Apenas primatas.
Com funções semelhantes as dos vírus, que entram em organismos e os matam com a necessidade simples de querer viver. Mata o hospedeiro com função de existir. Talvez seja o que somos, grandes vírus para o planeta. Devem existir outras "bactérias", "fungos”... Mas vírus letal como nós, não há. Talvez um câncer que se propaga indefinidamente, destruindo o resto do tecido vivo que o mantem "reproduzindo-se".
Diante de tamanha destruição contínua, de tamanha hipocrisia com o uso e definição da palavra "Humanidade", o que se espera dessa civilização? O que esperamos de nós? O que impele cada ser vivente a uma vida contínua sem saber o porquê de estar fazendo tal coisa? É apenas nascer, casar, se reproduzir e morrer? E nesse ínterim, estudamos tudo que já foi dito (e alguns até modificam algo), trabalhamos incessantemente dia após dia, para nos sustentarmos (e alguns apenas para não morrer de inanição) e adquirimos bens de consumo que aparentemente nos alegram (compramos indefinidamente, pois o mercado, o país e o mundo precisam que seja assim).
Por fim nos aposentamos, no final da vida, e as respostas nunca foram imaginadas por medo das perguntas. E porque teríamos perguntas se somos a imagem e semelhança do criador do universo, seres sapientes no topo da escala evolutiva e donos do mundo? Não fazemos a pergunta sobre a existência por medo da resposta.
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