terça-feira, 21 de abril de 2015

A Morte Do Eu-Lírico

Estava ele, estatelado no chão. Não caiu de nenhum prédio em construção.
Não era ave, fingindo ser príncipe que descansava enquanto comia feijão.
Nem morreu atrapalhando o tráfego na contramão.

Morta estava à esperança, daquele que não poderia mais chorar sua lamentação.
Para que ser então, pequeno sartriano? No peito pensava sobre si em eterna divagação. 
Morte daquele que nunca viveu; fora assassinado por si no momento de sua maior decepção. 
Não foi morte de bala, facada ou afogamento. Foi morte por desistência de tanto aborrecimento. 
Queria lobotomia, ou ter o gosto por toda a bebida, para se embriagar sem ter nenhum refinamento. Não teria pó no mundo ou droga alguma suficiente para alienar o mundo de seu entendimento. 

Suicídio orquestrado pela incapacidade de se argumentar com a realidade desse corpóreo confinamento.
Antes de tentar de todas as formas não sucumbir à tragédia, lutou contra o vazio e foi enfim vencido sem constrangimento. 

Consciência que se pesa, desarmado e cansado, por tamanho sofrimento. 
"-Porque ter o suplício da vida?" Perguntou sem resposta, a essa questão que lhe dava constrangimento.
"Grande existência, soberba em sua excelência, qual peso tenho para você nesse universo infinito, onde egos já não cabem sem redimensionamento?"
 Era só mais um dia, mais uma vida, mais uma eternidade que se aguentava por poucos sorrisos e amargo sentimento. 

 O eu - lírico morreu, de morte morrida, morte matada, morte ensaiada.
 Deixou um corpo em pé, como testemunha, de tamanha brutalidade que lhe fora causada.
 A voz que tanto ouvira como a consciência tinha se emudecido de forma abrupta, que lhe deixou sua feição feito palavra muda. 

Não há voz para interceder. Que cala a dor em seu peito sem mesmo se perceber.
Morto, sempre esteve! Andando entre os vivos sem mesmo se reconhecer. 
Morto, não havia mais pensamentos, idéias vazias: era agora só mais um do rebanho. 
Sem propósito, determinação e sem mais a sensação que era um erro existencial medonho.

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