sábado, 9 de agosto de 2014

Jaz Não Ouve Mais Jazz!


Percebeu que estava morto? Claro que não. Nem conseguiu acabar a gelatina que esta apoiada no braço do sofá. Os filhos agora vão se definhar sobre os espólios: sua casa, seu terreno torto... Não sobrará nada. Nem percebeu que estava morto, não sentiu nada, não percebeu que morreu. De uma hora para outra, já tinha ido, sem dar uma ultima risada. Putrefato sobre o sofá, inexistente jaz não ouve mais jazz.

Mas não importa mais dogmas. Não importa mais saber sobre a chuva de domingo, sobre o jogo do campeonato, e nem a cor de camisa que ira vestir para ir ao bingo. Acabou e nem sentiu. E que diferença faria se sentisse? Percebeu que morreu? Viveu e nem existiu?

Acabaram o rito, as preocupações. Sentiu a diferença? Claro que não. Está morto, inerte e apodrecendo pelo tempo, não terá mais doença. Os vermes serão seus amigos. Amigos, como "carne e unha" ou se preferir pode virar pó. Cinzas a serem espalhadas em um terreno baldio pelos seus entes queridos.

Cinzas para serem jogadas na churrasqueira, no próximo churrasco em família. Morreu e nem se deu conta. Está morto, sem respirar não pode reparar na decadência da vida, e por sorte não conhece nenhum fã de necrofilia.
Viveu sem saber. Viveu como se sempre houvesse amanhã. Viveu apenas por viver, e porque seria diferente? Hoje apenas pereceu, não importa mais o verbo "ter".

Imagine se um dia desaparecesse o instinto de autopreservação? Quão absurda seria sua existência? O porquê de continuar existindo esbarraria em seus pensamentos no raro momento em parasse para pensar sobre a sua vida, com ou sem decência. Todavia, não há por que. Nunca houve. Apenas a constatação.

Com fé no que há acima, e em uma existência perene, isso é o que importa, mais do que um ritual solene. Somos deuses irremediáveis que criamos outros deuses irremediáveis e que terão acima o ser onipresente que nos dirá: "Morra, já está em sua hora! Chega dessa existência e suas possibilidades inimagináveis"

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