domingo, 6 de dezembro de 2015

Sobre Guerra e Paz

Porque sentiria a dor alheia? Se não agüenta a própria, como agüentará a alheia? Poderia sentir a alegria de viver e a incógnita vontade que motiva o ser humano apesar de todos os pesares. E por falar sobre os pesares, estes possuem muitos pêsames em seu histórico. 

A verdadeira sensação seria sentir a alegria de viver. A satisfação a cada respiração e a inspiração para tal. Alguns dizem que só se dá valor quando se perde algo, mas dificilmente vemos defuntos reclamando sobre a falta da alegria em respirar. 

Na morada da dúvida, vive a satisfação de não saber. Tem se a noção relativas de certos aspectos de determinado assunto. Mas especificar que "sei" é admitir o contrário, já que não se é onisciente. E nessa mácula de não saber e ter medo de não saber é que se criaram os deuses. Seres oniscientes, donos do destino e das ações do Homem. Também deu origem ao demônio, para justificar os desvios de atitudes, comportamentos e sobre ações insanas no passado. 

As desculpas e erros originaram a nossa cultura e a necessidade de fugir da realidade. E na fuga da realidade inventaram até as drogas. Para não sentir (ou sentir demais). Para não sentir as dores, as angústias. Está tudo tão conectado. Tristemente conectado. Será que haveria narcotráfico se as plantas de coca e maconha se deixassem de existir por algum motivo biológico?

Provavelmente inventaram outra droga qualquer. A necessidade cria a ferramenta. A fuga cria artifícios! E a dor? Ela continua lá. Não há cura e sim remédios que fazem o que o nome especula: “remediam”. 
Remédios que não procuram a cura, e sim amenizar os efeitos diversos da dor na vida. 
Remédios que acumulam nas prateleiras, nos estojos de medicamentos, remédios vendidos nos balcões em forma liquida e em “baladas” dissimuladamente alegres, remédios modificados e aspirados pelas narinas, enrolados em papel de seda e tragados, queimados em colheres e injetados na veia. 

Muitos desses fazem mais mal do que bem, matam aos poucos, mas mantém longe a realidade. Brutal realidade. A sociedade fica atônita com essa fuga. A alienação para fora da alienação.
Cria-se a guerra externa para acabar com a guerra interna. Uma guerra pela paz. Guerra para acelerar a morte dos dependentes. Guerra contra aqueles que alimentam os dependentes. Guerra para ver quem lucra mais. 

Guerra que gera despesas enormes e perdas de vidas. E isso acalanta as mentes conservadoras; a Guerra pelo “certo”. E o sagrado se mantém dessa forma como sempre foi. E nesse ritmo afoito de combate, nem mesmo combatem das causas e sim as eternas conseqüências. O mercado consumidor continua existindo e aumentando, enquanto se poda os ramos, as raízes se ramificam ainda mais e se tornam mais fortes. 

A hierarquia estruturada historicamente, fundamentada no estamento social, modificou-se com tempo, coloriu-se um pouco, aderiu novas formas, mas manteve-se essencialmente original. Originalmente horripilante e que adora as guerras em troca de algo, odeia a fuga da realidade, mantêm a forma de ser do mundo em que vivemos e prega como se deve ser, como é ser humano. E então, como sentir a dor alheia em meio a tanto dor em viver nessa existência absurda? Como agüentar a dor de outrem se não agüenta a própria? A quem interessa tamanho absurdo paradoxal? Se fosse distribuída a alegria de viver como se distribui as diferenças (e indiferenças), seria mais sustentável viver nesse mundo.

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