domingo, 18 de outubro de 2015

Decifra-me ou Te Devoro

Decifra-me ou te devoro, disse uma esfinge certa vez. Criatura faminta, ávida em devorar alguém. O mundo ainda reflete essa ideia antropofágica: "Quem come quem? E ai, comeu?".

Tudo se traduz em sexo. Sociedade falocêntrica, imagina o mundo como a cabeça de uma rola, no meio do universo, onde a vagina seria o buraco negro. Seus prédios enormes e sua visão de mundo se traduzem em picas saindo do chão rasgando o céu.
De onde saiu esse desejo tamanho pelo sexo? Transformar amor em sexo... E violência em sexo.  

Nesses momentos é que nos aproximamos de nossos ancestrais mais primitivos, grunhindo, rosnando, remexendo em gestos repetitivos em busca de algum prazer. É nesse prazer que consideram a vida, nessa satisfação que eclode no cérebro, como larvas de cisticerco.
Amor passa pelo sexo. A dor passa pelo sexo. A vida passa pelo sexo. Nessa corrida rumo ao nada, trepando com a satisfação do gozo sem se preocupar com o Armagedom no final do mês.

O hedonismo nunca cessa. A busca pela satisfação nunca finda. Talvez seja para ajudar a absorver toda a dor latente existente. O sexo serve como analgésico da vida que também não se abdica de nos foder constantemente (no sentido figurado na maior parte do tempo).

A TV me corrói, a vida me corrói. Beber só iria corroer mais ainda meu fígado, meus órgãos. Se a vida me corrói, talvez eu seja uma estátua de mármore.
Os sons que saem do aparelho televisivo soam tão vazio, tão manipulador. O suspiro que sai do corpo sai tão errático e tão desesperador.

Sou um monólito destruído. Um monumento sobre o absurdo do momento. E o que resta para estátuas “vivas” e ambulantes a não ser tentar foder? Mas não, o sexo não mais responde a satisfação. O tesão acabou.

É endorfina confundida com morfina. E confundem o foder conotativo com o denotativo. Confundem o amor com foda, e fodem tudo e a todos sem amor e sem sexo. O foder apenas pela destruição. Foder como se fosse pelo prazer de infligir à dor, elevando a paixão pelo “si” a níveis universais para enfim, se sentir o pica das galáxias.

sábado, 10 de outubro de 2015

Incompreensível

Vendado, sente e entende mais a aflição da cegueira. Nada é mais nítido que o clarão absurdo que não o faz enxergar; Preso a uma cadeira de rodas, sente a penúria da locomoção de uma forma que nunca imaginou passar. Alguns passos tão fáceis agora são dispendiosos em energia. O cansaço parece tão grande e absurdo em andar.

Sem ouvir, entende o silêncio. Monstro que mora em meio aos efeitos de sonoplastia e gritos e se silencia. Sente o incomodo de não entender o que dizem e a música que tanto lhe fez bem e que lhe serviu de fuga, não existe mais. Agora só sente as vibrações do som pelo corpo durante o dia.
A voz estremece. Ao abrir a boca nada saia. O silêncio volta como carrasco que é. Não existem mais palavras de amor, aconchego. Não há mais como cantar o mundo em contos. Ninguém vai ouvir seu grito de arrego.

Preso nessa vida miserável, sem carro do ano, emprego estável e de boa remuneração. Tudo acaba como começa, de forma imprevisível (e sem admiração). O planejamento como sempre falhou em seguir o que foi estudado. O que era tudo, senão reflexo de sua posição social? Seus direitos são garantidos pelo dinheiro trabalhado. Seu respeito pelo status. Descascaram a personagem e encontraram a figura humana (só e arrasado) .

A mente não consegue pensar direito. Os risos e as piadas não possuem mais graça. A doença lhe parece algo confortável. Dores físicas não parecem ser tão ruins quanto a que sente na mente como principio da desgraça. Uma agonia em estar e ser. Dizer e não ter o que falar e sentir deplorável.

 Humanos caminhando, conversando e se interando e para si, e isso parece ter falhado em fazer sentido. A mente lhe engana, prega peças e hesita em testar seu instinto de sobrevivência amaldiçoado. O que consta é ausência de sentido. A dor alheia não parece interessante até sentir na pele. Até se quebrar os ossos. Até perder suor, sangue e a alma, ainda assim nada compreende. 

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Fazenda dos Animais

No Desejo de felicidade, daqueles lindos pastos com todos felizes e sorridentes brincando de ciranda ao ar livre.
Da utopia e das revoluções ideais que sempre falam... Não acredito em nada.
Nem mesmo na opinião verdadeira de certas pessoas. Animais piores do que eu; aqueles que se devoram ainda vivos. Sociedade canalha e antropofágica.
Sem remorso e de falsa moral. Vejo como se esconde por detrás das orações. Do falso pudor, do medo da punição. Animais tão ruins quanto eu;
Sei meus podres e minha incapacidade, e o que me dói mais é ver a arma engatilhada e a pessoa desumanizada como coisa que é. Dói-me é ter um pouco de sentimento nesse corpo sem trato.

Aguarde com o coração raivoso. Guarde-o para não se machucar. Nesse mundo onde tudo que é errado vigora, estar minimamente certo é uma temeridade. O melhor é errar junto nessa festa nefasta indo direto ao desfiladeiro da distopia.
Os juízes caolhos que pregam a justiça parcial. Os analfabetos políticos e suas fúrias na rede. As negociatas e dívidas perdoadas pelos bilionários estelionatários.
São bandidos melhorados. Diferente do "vagabundo" que te coagiu com arma na mão, ou pulou o  muro da sua casa para levar a TV.

O "vagabundo" elitizado usa terno Armani e camisa de seda. Desvia milhões a bilhões por se achar melhor, por achar que é assim é justo e dissemina sua moral como se fosse uma pessoa ilibada. "Não pagar impostos é legítima defesa", diz o imoral e seus puxa-sacos.

E se imagina viver em um lugar utópico, sem governo e sem gastos públicos. Onde os hospitais possuem potes de ouro no final do arco-íris, as escolas são levantadas por fadas e os professores trabalham apenas para afastar o ócio, gratuitamente como todos os demais funcionários públicos.

Sem falar que acordou numa manhã que toda a história do país se apagou. Foi zerada toda a miséria e abismo social inerente após séculos de má-formação. Desde o Egito Antigo, passando pela Macedônia, a república Ateniense até a revolução francesa, todos os governos viveram de magia para tratar de custos públicos.

Alquimia criando ouro! Vivemos em uma sociedade tecnocrata, logo todos seremos trocados por robôs ávidos pelo trabalho. O que gerará seu lucro?
  

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Malabaristas no Circo dos Horrores

Crianças, filhos de outrem, filhos de ninguém, sujeitos indefinidos de várias orações. 
Malabaristas circenses no picadeiro dos horrores da vida. 
Trapezistas inatos andando na corda bamba em cima de um precipício. 
Em troca de olhares, atenção e trocados
Ou qualquer cola que tire da realidade (Qualquer calor que lhe lembre ser humano).
Os palhaços estão na plateia contando piadas de mau gosto.


Ali junto ao cão esfomeado e magro, tem o filho de qualquer um, com a pele escura como a noite, com razão prejudicada pela realidade da sua própria existência.
Estar vivo parece ser um absurdo em meio a tanta vida desregrada.

Em tamanho absurdo de ver infantes aos faróis pedindo qualquer coisa, o ser humano passa indiferente, sem indignação alguma. 
Aos parasitas sustentados em cargos no senado e congresso não se sente indignação alguma.

As mortes de indígenas por fazendeiros e posseiros, não se sente indignação alguma. Em algum momento se perdeu a idéia ou a concepção que encaixa as pessoas como seres humanos e esse conjunto de seres humanos que seriam uma “sociedade”.

No meio do desconforto em se ver algo que daria vontade de arrancar o coração com tamanha tristeza... 
Fecha os olhos, respira fundo, pague um doce e engula a falta de dignidade e respeito de uma sociedade doente e hipócrita.  Engole o choro e aprecie o almoço.