sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Filhos do Ópio

Não tenho pena dos alcoólatras que trocam sua vida pela garrafa. Encharcam-se dizendo que isso é diversão. Entorpecem seu corpo até o vômito chegar e dizer que basta. O sentido da alegria se traduz no comercial de cerveja. 
A diversão é tomar uma “breja”, mas o sentido real é beber e tragar o sentido real! Não tenho pena, mas entendo.
Daqueles que se entopem com a maconha, aspirando sua fumaça mesmo contrariando as leis ortodoxas do país e se vendo na linha cruzada do tráfico e a repressão, queimando seus neurônios e necrosando seus pulmões. Não preciso concordar, mas eu entendo.

Daqueles que cheiram cola nas ruas para ficar loucos, esquecer o frio e a fome, ou só por diversão momentânea. Roubam para alimentar o vício. Sem perspectiva de vida. Não sei quais são os culpados, mas eu entendo.
Daqueles que criam qualquer vício, do pó ao álcool, passando por qualquer cogumelo atômico que faça se perder a cabeça.

Não preciso perdoar ou dar benção, mas entendo. 
São as fugas. As fugas das fugas. Fuga da verdade. 
Da realidade que por si só parece ilógica e massacrante. 
A fuga de saber que precisa de fuga. 
A fuga de tudo que pode te machucar sem saber como retaliar. 
Sempre a fuga da realidade. O ópio teve diversos filhos, uns abençoados outros bastardos. 

Uma forma de se alienar de tudo que conhece como mundo. Uma forma de fugir dentro de si. Onde possa escapar sem ser visto. Mas o efeito passa e a realidade retorna com sua botina sobre o pescoço.

E esse é o ciclo interminável, de fuga e arrebate da realidade. Correr indeterminadamente atrás das fantasias e sonhos acordados, até ser encontrado (e levado de volta a realidade)... 

Enquanto isso, a própria realidade que aprisiona vai se desabando e se tornando mais insustentável. Não fuga até que chega a mãe de todas as fugas, e ai, é simplesmente o fim. Não posso compactuar, mas entendo. Se conseguisse me convencer de que sinto prazer nessas fugas, e se conseguisse realmente fugir totalmente, entenderia mais.
De todos os males e todos os pecados, eu entendo.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Pequenas (R)Evoluções

Há pequenas evoluções ocorrendo. Revoluções silenciosas e nada pacificas.
O que era velho está dando lugar ao novo. Os conceitos antigos estão sendo superados.
Medos milenares sendo debatidos abertamente. Ainda que de forma imperfeita e relutante, estamos evoluindo.

As pequenas mordomias e a troca de benefícios da empresa já não suficientes para suportar a vida como ela é. Autômata. Sistemática. Não dá para engolir os desaforos calados, engolindo a pinga durante a noite.

Hoje é preciso pensar sobre seu lugar no mundo e em todas as diferenças que existem que interdependem da sua existência. As pequenas emoções estão aumentando.

Não se faz mais chacotas dos mais fracos impunemente, pois em tudo há olhos.
Não adianta pedir desculpas, pois o sentimento está à flor da pele. A toda transgressão sentida, a uma voz para gritar.

Todas as paredes têm ouvidos. Estamos sendo observados passa a passo. Escoltados para fora de uma realidade que foi delimitada há muito tempo atrás. Estamos mudando, além do que achamos que é bem ou mal.

Adaptando-nos as diferenças que coexistem. Tentando entender as regras do caos que nos envolve. Estamos evoluindo a maneira que tem que ser. Na dor, dificuldade e sendo selecionados por uma arbitrariedade maior que nossas vontades e impulsos em querer existir nesse espaço/tempo em eterno conflito.
  

sábado, 7 de fevereiro de 2015

A Pedra Que Não Ama

Há pedras mais altruístas que certas pessoas. Icebergs mais amorosos... Mas a vida é injustiça por si só.
Vai te fazer desejar o impossível, como a cobra que olha para o céu, indagando quando poderá voar.

Os planos serão todos esquecidos.
O amor vai morrendo aos poucos. Existe tanto sentimento dentro de uma certa pedra, menos o amor. Existe a dor irreparável e uma mania clássica de masoquismo.
Mas o amor, não se encontra mais nela. A pedra que parecia impenetrável é oca.
Oca, corroída e corrompida.
Por anos foi se ruindo. A pedra que poderia ser viva é apenas uma imagem imaculada e irreal.
A pedra não existe. Toda a sua composição sólida e átomos que a formam é irreal. A pedra está morta. A pedra nunca existiu a partir de hoje. Criando um loop no espaço tempo ela se destrói antes mesmo de se criar.

Não há amor dentro da pedra. Não há compaixão. Há apenas o vazio e o silêncio. A dor que persiste mais do que a água que a fura quando bate nela por décadas.

O sentimento que vive dentro da pedra é apenas o pior possível. A pedra está morta, mas continua ali, imóvel e pensando em deixar de ser. Pedra essa que pensou em ser rocha. Ser igual a outras pedras que rolam por ai.

Não há mais nada ali. Não há pedra e nem amor. Não há nada que fique de bom, além dos resíduos. Hoje a pedra inveja até os icebergs, que gélidos e inertes parecem ter mais amor ao mundo do que ela.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Errare Est Bizarro

Queria poder pedir desculpas por ser quem eu sou. Meus fracassos, meus erros e manias. 
Queria ter o dom de ser menos humano, pois se errar é humano, sou "sobre-humano". 
A síntese do " super homem" de Nietzsche ao avesso no belo estilo "Bizarro".



Gostaria de ser menos humano por dentro e mais por fora, assim demonstraria mais os gestos e feições tão comuns a nossa espécie. 
Por dentro seria mais frio e distante como a longínqua Finlândia. 
Queria errar menos e ser mais exato. Parecer mais certo e menos bizarro. 

Estar mais contente do que aloprado. Menos loucura e mais realidade. Me resignar na criticidade dos fatos que me envolvem sem precisar engolir as "pílulas de felicidade diárias".
Queria pelo menos me perdoar. Me desculpar por não ser a pessoa que eu queria ser.

Por todos os meus planos falhos e projetos que deram errado. Queria me perdoar por todas as minhas falhas, preconceitos e erros contínuos que ciclicamente cometo. Acima de tudo queria ser menos humano e mais pessoa.