domingo, 31 de agosto de 2014

Coração de Aço.


Para viver é preciso um coração de aço e uma cabeça cheia de vento.  

Para suportar a existência e os desmandos do destino, é preciso paciência e lágrimas que evaporem em contato com o rosto, já que é necessário parecer forte como uma muralha ( até mesmo as muralhas cheias de rachaduras ).  

Defeitos se refletem nos outros, com isso, podem suspeitar das suas próprias certezas forjadas em suas contradições e na realidade absurda que estão inseridos. 

Sobre si, recai o peso. O peso dos ossos, da pele, da carne e de todas as pequenas preocupações da vida e a suspeita de que nada faça sentido. 

Para viver é preciso ter a certeza de que não é imortal, fato esse ignorado no dia-a-dia, pois se torna uma preocupação para o momento além túmulo, quando o mesmo não tiver mais que pensar. 

Para viver bem é preciso um coração de pedra e uma cabeça cheia de brisa. 

E que a brisa leve embora todas as preocupações imediatas para além mar, além do horizonte, além do homem, pois o que os olhos míopes não veem, o coração petrificado não sente.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Apreciando o Silêncio.


Silêncio, não o propriamente dito que existe no vácuo do espaço, mas sim daquele que 
é a ausência de sons irritantes, instigando a uma comunicação odiosa para o momento, que nos faz um triste palhaço.
Aquele silêncio que é a ausência de voz de outros. O silêncio da solidão. Silencio que causa até certo embaraço.

O silêncio em que se ouve o ruído da geladeira, e o tic-tac do relógio.
Bendito seja o silêncio que destruímos tantas vezes com sons inúteis com um pouco mais de ódio.
Se deliciando com o vazio das perguntas irritantes, das conversas sem nexo e do tagarelar das inutilidades, como se a paz do silêncio fosse fruto de um sufrágio.

Eis o silêncio que deveria perpetuar como em um momento eterno. O silêncio ensurdecedor.
O silêncio que rompe os sons absurdos e músicas fora de ritmos com uma violência sem precedentes, sem abater pelo caos externo.
Mesmo sabendo de todas as notícias ruins que venham a te açoitar, e das lágrimas que possam escorrer pelo rosto, se espera a cura de todos as dores, o silêncio é o que separa o mundo de ser um inferno.

Só quero apreciar o silêncio...

Palavras são como a violência
Quebram o silêncio
Vem colidindo
Dentro do meu pequeno mundo
Doloroso para mim
Me perfurando por dentro
Você não pode entender?


quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Bons Exemplos.


Temos tantos teóricos geniais, com um mundo cheio de conceitos ideais e que abrangem lindas palavras. Porque não existe nada disso na prática?
A criatura criou algo que deveria ser o criador. Criamos os melhores exemplos para se seguir, ideais! Exemplos imaculados!

Exemplos que são até humanos. E há quem diga que há sentimento humano nesse monte de gente que contempla o coletivo chamado humanidade.
Fazemos exemplos tão bons que não podemos (queremos) seguir. Tão ideais que parece errado macular com nossa existência, toda sua fama que nós mesmos criamos e idolatramos.

Criamos modelos ideais, que não seguimos por serem ideais demais, e não somos tão corretos para sermos comparados com tais modelos. Por algum motivo absurdo é uma afronta falar contra o modelo que nós mesmos criamos e que alcança valores irreais e uma áurea imaculada em torno de si. Temos medo de nós mesmos. Temos medo por sabermos o que podemos ser e fazer. Não é a lei que e nem a policia que nos faz tremer tanto quanto nossa capacidade de saber, o quanto podemos ser ruins.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Os Palhaços Estão Mortos.

  

Os palhaços estão morrendo. Estão se matando diante da realidade. Não tem marmelada, não senhor. Não tem goiabada, não senhor. Os circos estão de luto. A comédia definha, as sátiras perderam o sentido. Não existe mais platéia para aplaudir o último ato. O enredo é triste.

Seriam covardes ao se evadirem dessa malfadada vida? Não se permitiram viver um dia a mais nessa realidade (que no final lhes pareceu tão absurda!). Sobraram perguntas e saudades. Velhas piadas recontadas indefinidamente. Repetidamente, até que os seus atos parecem fazer sentido no caos em que deixaram o mundo.

Velhas piadas que custam a perder a graça. Cenas difíceis de acreditar diante depois do luto.
Não há mais alegria, não há mais cantiga com sorrisos quase infantis. O que sobra é um ar pesado, denso como chumbo, pairando sobre as cabeças daqueles que estão incrédulos com os acontecimentos. Acabou a piada.

As piadas seguem sem voz. Porque, aqueles que nos dariam alegria, se cansaram de lutar?
À noite, ao dormir, talvez não tivessem motivo para sorrir. No silêncio que antecede o sono, talvez tivessem mais lágrimas do que motivos para sorrir. (ninguém vê o palhaço chorando.)

Queriam ver o mundo sorrindo. Davam piruetas pelo ar. Cambalhotas para as crianças. Com piadas sarcásticas ou trocadilhos embaixo da manga. Piadas inocentes ou de humor negro. Se dedicando ao público na melhor forma possível. Sentido o ar de riso que precedia a gargalhada.
Mas dessa vez, o mundo venceu. A tristeza venceu a alegria. As piadas perderam a voz. Os palhaços não existem mais. 


sábado, 9 de agosto de 2014

Jaz Não Ouve Mais Jazz!


Percebeu que estava morto? Claro que não. Nem conseguiu acabar a gelatina que esta apoiada no braço do sofá. Os filhos agora vão se definhar sobre os espólios: sua casa, seu terreno torto... Não sobrará nada. Nem percebeu que estava morto, não sentiu nada, não percebeu que morreu. De uma hora para outra, já tinha ido, sem dar uma ultima risada. Putrefato sobre o sofá, inexistente jaz não ouve mais jazz.

Mas não importa mais dogmas. Não importa mais saber sobre a chuva de domingo, sobre o jogo do campeonato, e nem a cor de camisa que ira vestir para ir ao bingo. Acabou e nem sentiu. E que diferença faria se sentisse? Percebeu que morreu? Viveu e nem existiu?

Acabaram o rito, as preocupações. Sentiu a diferença? Claro que não. Está morto, inerte e apodrecendo pelo tempo, não terá mais doença. Os vermes serão seus amigos. Amigos, como "carne e unha" ou se preferir pode virar pó. Cinzas a serem espalhadas em um terreno baldio pelos seus entes queridos.

Cinzas para serem jogadas na churrasqueira, no próximo churrasco em família. Morreu e nem se deu conta. Está morto, sem respirar não pode reparar na decadência da vida, e por sorte não conhece nenhum fã de necrofilia.
Viveu sem saber. Viveu como se sempre houvesse amanhã. Viveu apenas por viver, e porque seria diferente? Hoje apenas pereceu, não importa mais o verbo "ter".

Imagine se um dia desaparecesse o instinto de autopreservação? Quão absurda seria sua existência? O porquê de continuar existindo esbarraria em seus pensamentos no raro momento em parasse para pensar sobre a sua vida, com ou sem decência. Todavia, não há por que. Nunca houve. Apenas a constatação.

Com fé no que há acima, e em uma existência perene, isso é o que importa, mais do que um ritual solene. Somos deuses irremediáveis que criamos outros deuses irremediáveis e que terão acima o ser onipresente que nos dirá: "Morra, já está em sua hora! Chega dessa existência e suas possibilidades inimagináveis"