sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Nosso Apartheid Social.



Vivemos segregados no mesmo espaço. Há paredes em volta de nós (além da cerca elétrica e do concreto de 5 metros de altura). Há Paredes invisíveis e aparentemente intransponíveis.
Somos tão parecidos, para sermos tão diferentes. Temos nossas cabeças a julgo da intolerância, e nosso conforto vem primeiro que a vida humana. 


Consciência só pesa quando percebemos que sangramos, como os outros.
A inevitabilidade de saber da morte nos afugenta do pensamento, e tudo faz parte do agora, e o agora faz parte de todo o prazer. A loucura toma conta na busca infindável de tudo que é supérfluo.

Somos separados desde a nascença. Dizem como somos semelhantes, mas cravam diferenças ideológicas, mais profundas que as diferenças sociais. A idéia de recompensa divina em troca de esforço tem a alcunha de fortuna. Malditos sejam aqueles que não alcançam-na. Infelizes são aqueles que nasceram minimamente diferentes de mim:

“Meu império é só meu. Meu mundo é onde vivo. Minha realidade é tudo que eu enxergo. Minha vida é tudo o que estou fazendo. Não preciso de mais complicações!”

Aparentemente, temos o poder... Mas falta tomar posse desse poder. A quem interessa nos divide em pequenas cotas, dá água e pasto ao gado. A quem interessa nos convoca para o espetáculo, e mostram coisas incríveis para ficarmos revoltados ou animados. A quem interessa, nos divide, nos manipula e a conquista fica mais fácil.

Demonstram seus próprios preconceitos, mostram suas perspectivas e indiferenças. Ditam as novas regras e os pensamentos a serem difundidos. Demonstram a vontade de poder. A sede por poder. E a fome que engole almas.
Somos tão fortes juntos, mas sozinhos, vivemos pelos cantos, e outra vezes nos achamos semideuses. Para cada dia uma diferença, para cada fase da vida, um aprendizado.

Vivemos um apartheid social. A inveja é camuflada. As nossas diferenças estão escondidas atrás da cortina. Jogamos nosso racismo para debaixo do tapete. Nosso egoísmo e pseudo-elitismo, nós guardamos dentro de um armário. Fingimos e sorrimos. Sorrisos amarelos. Caras-pálidas. Mas está tudo lá escondido.

Não quer nada semelhante. O sucesso de outrem não importa muito, e de alguma forma abstrata, a felicidade alheia não deve ser alcançada. Lutamos muito por um individualismo que transpôs a realidade de que realmente sempre precisamos de outrem.

Fomos criados a partir das diferenças, estamentos, genocídios e chibatadas. Empurram tudo que puderam nas cabeças dos pais de nossos pais, para aprendermos tudo do jeito que acreditavam ser o certo. O tempo passou, essas idéias se diluíram, mas ainda persistem os resquícios como chorume contaminando a sociedade como um todo.

Nossa ilha deserta nunca foi realmente deserta. Estamos separados. Estamos na mesma área. Estamos no mesmo país. Estamos. Somos.
Separados, intrinsecamente separados, mesmo que fossemos gêmeos siameses, estaríamos a anos-luz um do outro, dividindo o mesmo corpo.

Uma hidra que tenta devorar suas próprias cabeças, contrariando a mitologia, a criatura morrerá com esse ato medonho, nenhuma ou outras cabeças renascerão a partir de certo momento. Só definhará.
Somos os mais ricos, e a miséria que ainda persiste em muitos de nós, diverte a poucos e espelha toda essa desigualdade secular.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Tão puro.


Nada é puro, nem o sol, nem as nuvens.
Nem todo dia é claro, nem toda a noite é de escuridão, nem tão sim e tão não.
Nada se mantém puro, tudo se corrompe. E nada faz parte desse tudo.
A beleza não é tão bela, a monstruosidade se esconde no sorriso.

A perfeição jamais existiu, nem como pensamento, nem como poema.
Cadeira de praia, sol, crianças sorrindo, o mar, o céu e todas as nuvens juntas.
Está tudo bem, enquanto se está bem. O mundo é bom, quando se está bom. E nada mais importa. 


Hoje é o dia. Sempre hoje. O prazer é alegria, sempre o prazer.
Mas não existe céu sem esse inferno. Não existe o caos sem essa ordem. Não existe a feiúra sem a beleza. Todos os lados da mesma moeda. Todas as formas que se contentam em se autodestruir.

Nada é puro, nem o sol, nem as nuvens.
Nem todo dia é claro, nem toda a noite é de escuridão, nem tão sim e tão não.
Nada se mantém puro, tudo se corrompe.

A poesia se perde, fora de rima, fora da simétrica. O mundo se perde em seu rumo, sem rumo.
O ser, não se importa mais em ser. O ter só te serve para um devido momento. Fugaz. Efêmero. Abundante.


Comida gelada, água quente, crianças tristes, chão desabando. Nada se completa, de forma tão antagônica, nada se completa de forma tão simples.
E por enquanto, está tudo bem. Está tudo bem com o mundo e minhas necessidades são o aqui e o agora. Enquanto não chover a roupa vai mofar no varal.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Quem é o dono dessa terra?


Quem é o dono dessa terra? A quem pago o que como? Quem me permite viver e quem decidirá minha vida e morte?
Nós vamos morrer para o trabalho. Trabalhar para que alguém que não precisará trabalhar, pois é melhor. Bem-nascido. Abençoado!

Bem-aventurados aqueles que me permitem comer em troca de trabalho honesto! (A inflação e especulação só ajudam).
A ideologia que implementaram nesse sistema funciona que é uma beleza; Dificilmente dá "BuG".

Até algumas décadas atrás, os negros eram considerados inferiores, não podiam entrar em certos lugares, como os nativos eram vistos como vagabundos sem cultura. Selvagens. (e muitos ainda pensam assim), mas a cada dia aprendemos novos conceitos, com resistência e relutância:
Nós sabemos tanto! O que tem de errado nisso? Porque não continua da mesma forma?
Tem que ser muito humano para cobrar o alimento essencial a vida. Tem que ser muito humano para cobrar a água que combate a sede. 


Para tudo há um motivo, e provavelmente, o motivo dessa humanidade, deve ser o mais nobre de todos. A igualdade que tanto pregavam , e as conquistas que tanto quiseram vender com triunfos, ganharam horizontes durante as décadas.
Só que infelizmente , oculta seus verdadeiros valores, e seu condicionamento é marcado pela pregação ao hedonismo. O egoísmo que se supera, até a salvação para a oração (que seja louvado o meu sucesso!)

A terra que tens no papel, com seu nome, não é sua. Vais morrer e sua carne vai apodrecer, comida por vermes decompositores.
E o mesmo acontecerá aos seus filhos e aos filhos dos seus filhos.
Essa terra é nossa e de ninguém. Essa água é nossa e de ninguém. Vamos viver e morrer sem termos realmente o que precisamos.


Tire uma foto do quadro de hoje, de nossas situações atuais, e veremos quanto teremos que mudar no futuro.
Bem-aventurados e justos sejam os homens que nos permitem viver. Nos vendem ilusões e prazeres fugazes.
Mundo maravilhoso de se assistir pela janela, melhor ainda quando estamos apenas de passagem...

Só resta uma mágoa


Só resta uma mágoa. Aquela de querer acreditar demais.
Só resta uma dádiva. Aquela que usamos de forma tão inútil.
Só restam mais alguns dias. Aqueles mesmo dias que faremos tudo igual. Dias iguais.
Só. Não resta. Sobra. (Fútil).


Ainda temos que assistir ao espetáculo e comer daquele pão.
Ainda tempos que agradecer pelo que é nosso por direito, pois alguém nos disse que não era mais.
Podemos pegar a coragem de algum passado ufanista e nos comovermos, com tamanha emoção.
Podemos acreditar em tudo que nos ensinam, como fruto da melhor das intenções (amor igual assim, só a dos nossos pais).


Aprendemos bem o que nos ensinam, vivemos bem do jeito que querem.
Somos assim tão naturais, com tantas ideias e sempre conformados.
Somos um pouco de cada um, universos próprios que se convergem e eventualmente, se ferem.
Temos tanto que não sabemos. Não criamos mais, pois vivemos dentro de nós, confinados.


Ainda resta uma mágoa. Aquela que usamos de forma inútil.
Ainda resta aquela dádiva. Aquela de sempre acreditar demais.
Ainda restam mais alguns dias. Mesmos dias que podemos deixar de ser menos e sermos mais.
Ainda. Resta. Falta. (útil).

Ode a amizade.


Amizade não se procura exaustivamente. Elas simplesmente acontecem! Em determinados momentos de nossas vidas, vivemos e encontramos pessoas que temos algumas afinidade ou até pouca afinidade, mas algum motivo estranho, nos faz confiar.


Esses são os seus amigos. Os anos se passam, e infelizmente muitos se perdem no tempo. Para aqueles que se foram ou se afastaram, sempre deixam algo, nem que seja simples saudade.


São irmãos e irmãs que não escolhemos (relativamente). Eles cruzam pelos nossos caminhos de forma inesperada e mudam todo o percurso restante. Não possuem o vínculo consanguíneo, mas partilham de algo que se reflete como a alma.


Temos nele, os opostos e as semelhanças. Temos neles diversos defeitos e qualidades. Temos a partilha da dor e a celebração da alegria. Temos todos os momentos que pudermos ter.
Raramente agradecemos com tamanha sinceridade. Dificilmente reconhecemos o bem que nos fazem. Seria até “desumano”, reconhecer tantas qualidades. Seria humanamente estranho abrir tantas emoções e dizer o que sente...ou talvez um simples “obrigado!”


Nesse caminho nos encontramos, e se por algum motivo existir mágoas, só cabe o pedido sincero de perdão. Se por algum motivo não fizemos o suficiente, um pelo outro, tentaremos refazer no futuro.
Quando o tempo se passa, quando tudo parece mudar a sua volta, ainda sim, existem aqueles poucos em que se pode confiar. Há com quem contar.


Todas as verdades e mentiras. Esses estranhos que chegaram aos seu ninho. Esse novo mundo que acaba de conhecer.
É um prazer, ter bons amigos. Assim como uma boa família, cultive-os da melhor forma.